sábado, 19 de janeiro de 2013

Crónica de Abilio Pacheco - O outro e eu mesmo

 
Crónica de Abilio Pacheco - O outro e eu mesmo
 
Assisti na TV que existem no Brasil 27 mil Josés Pereira da Silva e que destes 813 tem mães chamadas Maria José da Silva. A reportagem explicava que o levantamento existe por causa da previdência social, que precisa certificar-se da existência real de seus beneficiados. Em caso de homónimos a previdência usa para diferenciar o nome da mãe.
 
Impossível não ouvir a reportagem, pelo menos impossível para quem estuda literatura brasileira, e não se recordar do início do auto de natal pernambucano: «Morte e vida Severina», de João Cabal de Melo Neto. Eu, entretanto, lembrei-me também de um episódio bem particular, pessoal. Afinal, onde se encontrar outro Abilio ou outro Pacheco, outro Abilio Pacheco então…
 
Mas tem, e não tão poucos como eu pensara. Fui advertido por uma aluna quando eu lecionava na Escola Tenente Rego Barros. Uma aluna da sétima série. Quando cheguei à sala no primeiro dia de aula e fui me apresentar, a menina espigoita já havia dado uma googada no meu nome e foi emendando os «abilio pachecos» que ela encontrou na web. Eu ainda não tinha um site pessoal, mas não foi difícil para ela reconhecer qual era o «abilio pacheco» que entraria em sala. Não repito todos aqui, pois não vou privar o leitor da curiosidade e do trabalho de ir também ao Google (se o desejar, é claro!) e lá encontrar um rol de homónimos meus.
 
Um deles eu já conhecia de nome. Opa! Conhecer de nome é estranho. Digamos que um deles eu já havia dado de acordo que existia. E confesso que tive dificuldade de assimilar que aquele que eu via na TV tinha o mesmo nome que eu. Devia me sentir como as crianças que ao se depararem com alguém com o mesmo nome demoram a aceitar que isso seja possível.
 
Eu ainda morava em Marabá e cursava o mestrado em Belém. Colocava sempre a televisão para despertar por volta das cinco e meia. Assim eu poderia acordar bem cedo para ler, estudar e – raramente no hotel – escrever. Não sei precisar quanto tempo depois da televisão ligada, ele apareceu num programa sobre agricultura. Sei bem que ainda deitado, em vigília, eu ouvi: «Abilio Pacheco, da Embrapa, nos fala mais sobre…».
 
 
 
 
 

 
 

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