OS SINOS DE SANTA MARIA - Por Miriam de Sales Oliveira
Durante muitos anos os sinos de Santa Maria só tocarão finados. Impossível ter alegria quando o riso dos jovens, seus sonhos ficaram sepultados debaixo de um monte de fumaça. Rostos lindos, almas lindas, uma vida a conquistar, um mundo a vencer e o que sobrou? Corpos empilhados, luto total.
E porque esses jovens foram assim punidos? Apenas estavam fazendo o que é dado a todo jovem fazer nesta idade de sonhos ; divertir-se, cantar, dançar, celebrar a vida.
Meu coração baiano chorou por eles; os sinos da minha catedral dobraram finados porque eu sou parte do género humano; a morte de pessoa é uma perda que me entristece, porque eu sou mãe, avó e ser humano.
Esses sinos dobraram por nós, aqui, dobraram no Rio, no Norte, no Centro, ultrapassaram as fronteiras da pátria e dobraram também pelo mundo. Pois ,em cada lugar deste planeta há um sofredor, chora-se uma perda, lamenta-se uma vida, botão de rosa que não abriu, ceifada pela fatalidade, pelo álcool, pelas drogas.
De quem foi a culpa? A quem deve ser apresentada a conta? São tantos os listados como culpados que isso me preocupa, capaz que não apareça nenhum. Culpa coletiva é muito perigoso, pois num monstro de cem cabeças, poucas cabeças responderão por esse verdadeiro holocausto.
Restam aos pais, aos avós, aos amigos, administrar a dor.
Durante este período ouvi, na TV, diversas entrevistas com entendidos; todos exibiam suas sapiências e ideias; técnicos, disto, daquilo, daquiloutro...
Mas, o bom senso me mostra que aquele local, onde 1000 pessoas dançavam e se divertiam, tinha apenas uma porta de saída de 80 cm. E, nenhuma sinalização que indicasse que a saída seria por ali.
Aquilo não era um local de diversão, era uma arapuca mortal. Ninguém viu isso? pensou nisto?