domingo, 3 de março de 2013

Conto de Ilona Bastos - A Comissão para a Realidade

 
Conto de Ilona Bastos - A Comissão para a Realidade 
 
sem revolta nem encantamento
 Elaine
 ....... Conduzida à sala de paredes brancas e luminosas, aguardava-me do outro extremo da mesa de reuniões um estranho grupo composto por três homens. Aparentavam o aspecto bizarro que eu não poderia ter deixado de antecipar: o do meio - que me pareceu hierarquicamente superior aos outros - exibia longas barbas negras e cabelo comprido, atravessado no topo por uma larga e reluzente careca; o da direita ostentava uma esplêndida cabeleira loira, encaracolada; e o da esquerda era completamente ruivo, numa tonalidade eufórica, quase irreal.

Em frente a cada um deles, solenes placas em madeira esculpida exibiam os nomes daquelas extraordinárias personagens: Sabrab, que era o chefe, Oriol e Oviur. O semblante de todos mostrava-se grave, mas levemente suavizado pela minha presença.

«Sente-se! », convidou Sabrab, evoluindo a mão num gesto elíptico sobre a mesa.

Puxei da cadeira de pinho claro, sentei-me e fiquei a olhá-los vagamente, concentrada no barulho dos automóveis e dos pássaros para além janela.

«Diga! Diga, então!» - começou o chefe, denotando ligeira ansiedade. «Não temos tempo a perder. Diga-nos tudo o que sabe sobre a realidade!»

Fitei-os com algum espanto.

«Como sabem o que eu sei?»- perguntei, simplesmente. Ainda se fosse noutro dia! Se fosse ontem, por exemplo, algo lhes poderia adiantar sobre o assunto. Hoje, contudo, era completamente impossível dar satisfação a semelhante pedido!

Baixando a cabeça, distraí-me com o pensamento de que seria interessante pousar a mão esquerda sobre a mesa, esticar o braço direito num gesto perfeito, trazer a caneta colocada adiante, e aproveitar para desenhar calmamente algumas letras sobre o papel. Repeti, quase num murmúrio, erguendo a cabeça:
 
 
 
 

 

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