Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações XLVI - Por Daniel Teixeira - A lógica das coisas
Tenho tido alguma dificuldade em fazer novas «memórias» dos tempos de Alcaria Alta não porque haja muito pouca mais coisa para contar, mas porque esta minha ânsia da escrever memória se centra muito na base daquilo que é o Concelho de Alcoutim e naquilo que eu entendo ser a base natural do Concelho de Alcoutim e para meu desgosto ultimamente tenho lido mais sobre Alcoutim na sua perspectiva institucional (que é para mim o topo e não a base) do que fiz durante provavelmente toda a minha vida.
As valorizações que são dadas, por vezes com fortes consonâncias «bairristas», que também têm o seu aspecto salutar pois que em muitas coisas sem competição não há desenvolvimento, chocam com a perspectiva que se tem sobre a economia e a crise que se vive e sobre aquilo que se considera fazer falta no país: sempre considerei a actividade da Câmara Municipal de Alcoutim como uma actividade de gerência da escassez, e escrevi bastante, noutros órgãos de comunicação, sobre o louvável trabalho que foi sendo levado a cabo na assistência aos velhotes, muitas vezes isolados em montes também isolados.
Quando os fiz, os elogios, tinha em atenção que ninguém merece viver abandonado e que depois de uma vida de trabalho duro era mais injusto do que tudo deixar as pessoas ao abandono, sobretudo porque na sua grande parte, também, via alguns aqui pelas cidades, que salvo raras excepções estavam mais «virtualmente» mortos do que aqueles que eu encontrava nas suas próprias casas nos Montes, curvados ao peso dos anos, fazendo aquele pouco que as energias lhes permitiam.
Lembro-me, com alguma emoção (e pena, tenho de confessar) de um velhote que era do Alentejo e andava a meses em casa dos filhos: um deles vivia aqui em Faro, perto de mim, uma excelente pessoa, diga-se, com a sua vida profissional ocupada com horários alternados e puxados, restando-lhe pouco tempo, senão aquele que teria em sua casa, para dar um pouco de alegria e gosto de viver ao pai.
Lembro-me, com alguma emoção (e pena, tenho de confessar) de um velhote que era do Alentejo e andava a meses em casa dos filhos: um deles vivia aqui em Faro, perto de mim, uma excelente pessoa, diga-se, com a sua vida profissional ocupada com horários alternados e puxados, restando-lhe pouco tempo, senão aquele que teria em sua casa, para dar um pouco de alegria e gosto de viver ao pai.
Sem comentários:
Enviar um comentário