Especial Dia Mundial da Poesia - Adquirir a sua alma na paciência - Texto Recolhido em «As Leituras de Madame Bovary»
Estimado Poeta,
Não tenho outro modo de lhe agradecer as cartas que escreveu há mais de um século. Embora endereçadas a outro jovem aspirante a poeta, as suas palavras trouxeram-me uma alegria preciosa.
Estimado Poeta,
Não tenho outro modo de lhe agradecer as cartas que escreveu há mais de um século. Embora endereçadas a outro jovem aspirante a poeta, as suas palavras trouxeram-me uma alegria preciosa.
Os seus conselhos, sempre tão ternos e sábios, afiançam-me que conheceu enormes fadigas e pesadas tristezas e que a certo ponto, decidiu não desesperar e confiar nesse negrume que o abraçava. Tem razão quando afirma que se deve fazer da solidão «uma casa à luz do cair da tarde ou do amanhecer, por onde os ruídos dos outros passa à distância». Tudo o que é genuíno e grande começa nessa solidão desmedida.
A tristeza é o momento em que qualquer coisa de novo e desconhecido penetra em nós, como uma tempestade primaveril que entra pelos escaninhos da alma, sorrateira, aí se instalando com toda a lentidão e silêncio enquanto prepara o seu parto, no centro do ser.
A tristeza é o momento em que qualquer coisa de novo e desconhecido penetra em nós, como uma tempestade primaveril que entra pelos escaninhos da alma, sorrateira, aí se instalando com toda a lentidão e silêncio enquanto prepara o seu parto, no centro do ser.
«Tudo se resume a levar ao fim a gravidez e depois dar à luz. Deixar medrar cada impressão, cada semente de uma emoção, dentro de nós, no escuro, no inefável, no inconsciente, inacessível ao próprio entendimento, e com profunda humildade e paciência aguardar a hora do parto de uma nova claridade: apenas assim se vive artisticamente, no entendimento como na criação (…)
O Verão chegará. Mas apenas para quem esperou pacientemente, para quem aqui permaneceu como se à sua frente se estendesse, sem cuidados, silenciosa e imensa, a eternidade. Todos os dias aprendo esta lição, aprendo-a pelo sofrimento que aceito com gratidão: a paciência é tudo!»
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