domingo, 24 de março de 2013

Jornal Raizonline nº 215 de 25 de Março de 2013 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XXXVI) - Regresso ao passado

 
Jornal Raizonline nº 215 de 25 de Março de 2013 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XXXVI) - Regresso ao passado
 
O regresso ao passado pode ser visto pelo menos em duas perspectivas embora de uma forma corrente a conotação que se dá à expressão seja imediatamente negativa ou pelo menos, não sendo desde logo negativa, é pelo menos suspeita.

Claro que o regresso ao passado tem representado sempre uma coisa que se não pode ter, quer ela seja vista no seu aspecto positivo quer no seu aspecto negativo. Deus nos livre de um regresso à ditadura - diz-se desde logo - mas Deus não nos livre de um regresso a uma vida melhor que já tivemos e não temos quando foi e é este o caso.

Já quando se procuram trazer recordações do nosso passado trazemos sempre as melhores e os melhores momentos, fazemos uma triagem espontânea daquilo que «interessa» recordar e a consequente rejeição daquilo que não queremos lembrar ou que até, oportunamente, já esquecemos mesmo.
Portanto regressar ao passado, para todos os efeitos, mesmo sendo impossível, seria sempre voltar a ter os bons momentos que fruímos, normalmente no período da infância e da juventude e isto visto de uma forma geral porque há quem tenha tido infâncias horríveis. Mas, mesmo nestes casos, ainda que o esforço de memória seja mais intenso, mais selectivo, mesmo quem teve infâncias menos boas acaba sempre por encontrar nos meandros dos seus arquivos aqueles momentos que foram bons.

E, pasme-se quem achar que deve pasmar-se, numa parte substancial dos casos das infâncias infelizes, salvo os casos em que os traumas foram mais profundos e castrantes, é possível, nestes casos excepcionais, encontrar em cada momento bom, comparativamente e se fosse possível comparar, uma maior prazer na recordação, parcelada, caso a caso do que naqueles casos em que a abundância de momentos bons cria não só o embaraço da escolha como também a vulgarização do prazer sentido.

O que quero dizer com isto, nesta reflexão, é que de uma forma geral os valores em qualidade e em quantidade tendem a nivelar-se, ou a aparecem nivelados, nesta operação de troca de informações sobre o passado. Ou seja, tantas e tão boas recordações tem aquele que as teve fartas quanto as tem aquele que as tendo menos fartas as sente mais intensamente.
 
 
 
 
 

 

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