domingo, 31 de março de 2013

«A SOCIEDADE» - Conto / Crónica de Jorge Teixeira

 
«A SOCIEDADE» - Conto / Crónica de Jorge Teixeira 
 
Agora chamam-lhe «Os Bonjoanenses» mas no nosso tempo era «A Sociedade», ou «Sede», o único sítio com Televisão no Bom João.
 
Bonanza com o mapa a arder, música que todos cantarolávamos (Tan Tara Ran Tan Tan Tan), o Zorro e o Tonto com o seu Aiô Silver, Ivanhoe e Robin dos Bosques, digladiavam-se perante uma assistência hipnotizada e de olhos a brilhar, envolta na escuridão como no cinema, batendo-se com tremoços em saquinhos de plástico e Sofrutos, que tinha tanto gás que às vezes até saía pelo nariz.
 
Na noite a Televisão passava uma vez por semana concertos de música clássica para um único espectador, o Zé da Cavan que não admitia barulho nem correrias. Conversas em família com Marcelo Caetano, volta a França com Alves Barbosa a comentar, o Cinema mudo de António Lopes Ribeiro e o seu pianista que após muita insistência dizia boa-noite eram outros programas marcantes.
 
«A Sociedade» tinha características únicas. Aos Domingos de manhã disputavam-se Jogos de Basquetebol no campo das traseiras onde uma oliveira que ainda lá está assistia a alguns embates importantes do Campeonato, campo de terra batida marcado com cal, cuja atenção na métrica era dividida com a observação do Sardinha a fazer barcos – melhor nome para um calafate não há – e a carvoaria do Faneca.
 
Na parte da tarde era o futebol, dominó, jogos de cartas a feijões no sentido literal do termo. O futebol não dava ainda na televisão, portanto um rádio «Siera» ou «Grundig» assumia esse papel, colocado num suporte a meia altura, transmitindo as «imagens» dos jogos quase ao pormenor. Os relatadores eram tão bons que chegávamos ao ponto de olhar para a rádio no calor das jogadas e não raro os mais velhos discutiam os lances como se os estivessem a ver na realidade, tal o detalhe do relato.
 
 
 
 

 

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