QUERO IR CEIFAR CONTIGO - Por José Francisco Colaço Guerreiro - Publicado em «Património»
O verão veio temporão naquele ano. Ainda não era tempo para tamanhos calores, mas os braseiros e os ventos do levante ressequiram as pastagens e apressaram o amadurecimento das cearas que ficaram curtas e de bagos falidos.
Tudo à roda da vila de Entradas eram espigas por colher .Os lavradores e os seareiros, começaram cedo a fazer as suas contas às fundalhas. Nas conversas das tabernas e do café, nos finais do Maio já se falava das empreitadas e das jornas , com um tanto para os homens e outro tanto para as mulheres e para os moços.
E naquele fim de tarde, quando pela rua a Rosa bem preparada passava, de quarta ao quadril, a caminho da Fonte do Linhas, enchi-me de coragem e perguntei-lhe se já tinha patrão. Ela corou , corámos os dois, mas ainda lhe disse : «quero ir ceifar contigo» !
E naquele fim de tarde, quando pela rua a Rosa bem preparada passava, de quarta ao quadril, a caminho da Fonte do Linhas, enchi-me de coragem e perguntei-lhe se já tinha patrão. Ela corou , corámos os dois, mas ainda lhe disse : «quero ir ceifar contigo» !
Passados dias, não sei quantos, quando ela a caminho da fonte, fez por passar de novo, sozinha, à minha porta, ofereci-lhe uns canudos de cana que tinha feito e rameado pacientemente com a navalha.
Em troca, deu-me , mais tarde, de prenda , uma patrona que depois na ceifa, todos os dias eu usava com as mortalhas e a onça do tabaco.
Combinámos ir pedir trabalho ao mesmo patrão. Mas tardava a madrugada do dia em que no rancho podíamos ir juntos , estarmos e voltarmos , só depois do sol cair.
Até que chegou a hora, em que de manhã cedo lá fomos estrada fora e depois de duas léguas andadas, parámos na herdade, diante de um mar de pão ondulante para vencermos ceifando. Lembro-me de a ter visto tirar, devagarinho, os canudos rameados da foice para depois os colocar nos dedos. Enquanto os ajeitava, um a um, olhava na minha direção por debaixo das abas do chapéu.
Em troca, deu-me , mais tarde, de prenda , uma patrona que depois na ceifa, todos os dias eu usava com as mortalhas e a onça do tabaco.
Combinámos ir pedir trabalho ao mesmo patrão. Mas tardava a madrugada do dia em que no rancho podíamos ir juntos , estarmos e voltarmos , só depois do sol cair.
Até que chegou a hora, em que de manhã cedo lá fomos estrada fora e depois de duas léguas andadas, parámos na herdade, diante de um mar de pão ondulante para vencermos ceifando. Lembro-me de a ter visto tirar, devagarinho, os canudos rameados da foice para depois os colocar nos dedos. Enquanto os ajeitava, um a um, olhava na minha direção por debaixo das abas do chapéu.
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