As Ilhas Malucas - Texto Recolhido em «As Leituras de Madame Bovary»
Estar desempregada é fodido pelas mais óbvias razões. Mas também pode ser uma experiência psicadélica capaz de bater qualquer ficção do Pynchon. Para além dos gajos que se fingem dispostos a ajudar quando mal conseguem disfarçar os seus próprios interesses sexuais, acontecem coisas verdadeiramente hilariantes.
Ontem, por exemplo, tive uma reunião surpreendente. Tinha ido correr junto ao Tejo e preparava-me para tomar um duche longo e quente quando me ligaram para falar de uma proposta de trabalho. Desci as escadas do meu prédio, suada e em roupa desportiva, e entrei num carro híbrido (foi a minha primeira experiência num híbrido).
A proposta era a seguinte: existem umas ilhas, cujo nome não se pode mencionar, que estão a ser disputadas por dois países. Alguns documentos foram reunidos em Espanha para provar a pertença histórica e natural (pertença natural?) dessas ilhas a um dos países envolvidos no conflito diplomático e entregues à ONU. Contudo, as provas não são conclusivas e existe a informação de que Portugal poderá (note-se o carácter hipotético da coisa) possuir documentos que comprovam essa pertença.
Por isso, um embaixador pagou a um investigador de história para andar a vasculhar em tudo quanto era sítio e arredores para encontrar esses documentos. Três mil euros por baixo da mesa: um primeiro adiantamento. No entanto, parece que o rapaz provocou de algum modo algum descontentamento no embaixador, pelo que existe a possibilidade (ainda não efectiva) de o mesmo embaixador vir a necessitar de contratar outra pessoa para encontrar essas provas.
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