domingo, 10 de março de 2013

Missão possível - Crónica de Daniel Teixeira

 
Missão possível - Crónica de Daniel Teixeira
 
Uma manhã, mais propriamente de madrugada, recebi uma mensagem no meu telemóvel com um intrigante texto: «Tem missão. Recolher indicações no sitio do costume.»

Primeiro devo dizer que tenho tido sempre missões, sendo a mais importante agora procurar sobreviver no meio desta confusa amálgama de crises sucessivas e que para isso não preciso de recolher indicações em lado nenhum até porque não as há.
 
Embora não seja um ás no que respeita à resolução dos meus problemas normalmente faço esse exercício por mim mesmo e sem necessitar de indicações.
 
A mensagem veio ter ao meu telemóvel por engano no número, foi o que pensei ainda meio ensonado, lembrando-me de uma outra, também recente em que uma tal de Mikkas dizia precisar de vir tomar banho a minha casa porque o esquentador dela não funcionava.

Ora a Mikkas não apareceu (fosse ela quem fosse) e aquela missão anunciada devia pertencer à mesma família dos enganos. Voltei a dormir e quando chegou a hora vesti as minhas ainda existentes e parcas vestes e saí para tomar uma bica e comprar tabaco.
 
A senhora da tabacaria, sempre simpática, prestável ao extremo, contrariamente àquilo que era costume não me fez passar à frente na fila dos totolotos e embora andasse de um lado para o outro com o meu pedido maço de cigarros parecia estar a fazer tempo, manipulando o maço de cigarros entre os dedos como se estivesse a tomar-lhe o peso e o volume.
 
Assim que o espaço vazou, entregou-me o maço de cigarros e um envelope amarelo que tinha atrás do balcão dizendo-me «está aqui tudo e são três euros e setenta!» com uma expressão extremamente grave onde dificilmente se notavam os traços da sua costumaz simpatia que naquele dia foi ultrapassada por um pungente olhar quase lacrimejante.
 
 
 
 

 

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