Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios (2011)- Cinema pela Arte
«Lavínia fechou o chuveiro, pegou a toalha que eu estendia e voltou para o quarto se enxugando. Apoiou o pé na cama e curvou-se para deslizar a toalha pela coxa, me oferecendo ângulos esplêndidos. Olhei a Pentax de prontidão sobre a cômoda e decidi registrar aquelas epifanias. Eu também continuava nu.» — Trecho do livro - Poema escrito com bile (Marçal Aquino)
Bem verdade que o último filme resultante da parceria de Beto Brant e Renato Ciasca parece rudimentar se comparado com o livro adaptado de Marçal Aquino, «Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios».
Desprovido das ramificações que se estendem sobre as páginas, da complexidade das idas e vindas no tempo e do criativo conjunto de personagens, o filme, protegido sob a égide do poético título do livro, acerta ao fazer uso dessa tal simplicidade para elevar ao topo o flamejante caso de amor entre um fotógrafo forasteiro (Gustavo Machado) e uma sedutora mulher casada (Camila Pitanga), inebriante com todos os seus predicados dignos de musa.
«Eu Receberia...» (2011), deslumbrante conjunto de imagens ensolaradas, já começa intenso ao concatenar carne com terra — uma mulher nua é filmada sobre uma nesga de solo arenoso do território brasileiro e seus movimentos lembram a fertilidade de um animal selvagem, imagem que inaugura a doença de Cauby, tocado pelo veneno da fêmea.
Indubitavelmente, é grande o apelo geográfico do filme que transcende na região amazônica, intimamente ligada ao amor incauto levado ao paroxismo pelo atalho do prazer. Com estimulante ousadia, «Eu Receberia...» manifesta logo após seu início o caráter dispensável de qualquer introdução explanatória, Cauby fotografa a ira de nativos encarcerados depois da exposição da mulher nua, e assim, de chofre, surgem fotógrafo e musa, levemente constrangidos antes da entrega total ao desejo.
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