sábado, 16 de março de 2013

Contrastes da vida - Texto de Lina Vedes

 
Contrastes da vida - Texto de Lina Vedes
 
Era uma vez… Assim começavam os contos tradicionais infantis.
 Era uma vez…há muitos anos… os habitantes das férteis hortas que circundavam a cidade de Faro eram conhecidos por montanheiros!

Os citadinos consideravam-se pessoas de primeira categoria e até os mais pobres, de entre eles, se julgavam superiores aos montanheiros.
 Os montanheiros não eram pobres, viviam do trabalho alimentando toda a cidade. Das hortas vinha tudo o que se consumia na alimentação dos senhores, que se intitulavam importantes.

Os montanheiros trabalhavam de sol a sol e sabiam que necessitavam dos habitantes da cidade para a compra dos seus produtos. Sabiam da alcunha «montanheiros», não gostavam e desprezavam os que viviam de corpo direito, enfatuados, olhando-os de cima e regateando o preço do seu trabalho humilde.

Tinham em comum o respeito e obediência às regras sociais assistindo aos mais idosos, acreditando na doutrina cristã, honrando a palavra dada e sobretudo, pudicos e verdadeiros ignorantes nas questões sexuais.

A sociedade, na generalidade, era furiosamente castradora de sentimentos. Amor e sexo era uma utopia, a felicidade conjugal poderia ser sonhada mas, muitas vezes, era destruída logo nas primeiras experiências de lua-de-mel.
 Os casamentos visavam interesses familiares.

Assim aconteceu com Amélia e Joaquim vivendo na zona da Senhora da Saúde, perto de Faro, por volta de 1938. Acomodaram-se, tiveram dois filhos, Joaquim Manuel e Maria José, juntaram as suas terras e foram exemplares no viver pacífico e rotineiro.

Haviam recebido dos pais concepções erróneas de vida e pretendiam utilizar, com os filhos, esses mesmos métodos bárbaros, limitadores e causadores de sofrimentos ilimitados.
 Após a quarta classe o filho mais velho, Joaquim Manuel, ingressa na Escola Comercial e Industrial de Faro. O forte desejo de dar aos filhos uma vida melhor tornou-se, nessa altura, imperativo tanto para os da cidade como, mais ainda, para os montanheiros que não queriam continuar inferiorizados.
 
 
 
 

>
 

Sem comentários:

Enviar um comentário