sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Santa Maria repercussões e lições - Crónica de Abílio Pacheco

 
Santa Maria repercussões e lições -  Crónica de Abílio Pacheco
 
Eu continuo estarrecido com a tragédia de Santa Maria. Não digo que cheguei à revolta. Com os desdobramentos, então, aí dá para aborrecer e revoltar-se. Os mortos, as vítimas vivas, seus familiares e amigos não merecem o noticiário. Quando escrevi um texto anterior sabia da dimensão apenas por meio, pela metade. Não haviam me chegado aos ouvidos esse valor absurdo de mais de 200 mortos.
 
Agora, hoje, dois dias depois é possível ouvir explicações e especulações mais variadas pelo ponto de vista (do técnico em segurança, do político…) e pela postura (daquelas técnicas ao extremo até mesquinhas – na rede social é incontável). O vulgo na maioria da vezes parece querer desembocar num mesmo ponto: eles não voltarão; as vítimas, essas, não voltarão. O que – infelizmente – é também uma ideia - cliché.
 
Eu vou – como tenho tentado fazer nestas crónicas – seguir na contra mão recorrente. Desta vez com a ajuda da minha ocupação principal. Afinal, qual o papel da educação na preparação dos jovens para a vida em sociedade? A sociedade que não é só o aprendizado para o trabalho e a vivência nas empresas – o tal «mercado de trabalho».
 
Parece-me óbvio demais – e até lamentável – notar que um ambiente como aquele não poderia ter uma única saída (de emergência ou não). Daí, quem quer que entenda da coisa deve ter passado por lá e não viu. Parece óbvio também que um ambiente como aquele deveria ter uma estratégia de fuga, algum mecanismo de evasão (explique isso aí quem é do ramo) ou houvesse, como há antes de filmes no cinema ou antes da decolagem no avião (e aqui eu mesmo acho a ideia inverosímil ou ridícula) algum anúncio informando como proceder em caso de incêndio. Por isso, deixo essas questões para a imprensa e para os especialistas e me arrisco na outra questão, que embora me pareça óbvia demais, não li nem ouvi nada neste sentido.
 
Enquanto pensava nesta crónica via que meus alunos de Teoria da Literatura queimavam a massa cinzenta com questões que não os ajudarão a escapar de um afogamento, de um incêndio ou de um assalto. Dava vontade de chegar em cada um deles e dizer para não fugir do fogo, mas da fumaça. E imagino que eu mesmo, mesmo nesta idade, teria corrido para o banheiro. Talvez não o faça mais depois de hoje. Nada ficará como antes em nossas vidas depois de Santa Maria.
 
 
 
 
 

 
 

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