A VAQUINHA FARRUSCA - Conto Infantil de Cremilde Vieira da Cruz
Era uma vaquinha tão inteligente, que o dono passava o tempo a dizer:
- A minha Farrusca é a vaquinha mais inteligente que existe no mundo. Para além disso, o leite dela é o melhor que há. E não sou só eu a dizer isto, pois ainda ontem o senhor Fagundes me dizia que tem muita pena de não ter uma vaquinha tão inteligente e que dê tão bom leite como a Farrusca.
Outro dia estava eu a magicar na minha vida, sentado num tronco de árvore à beira da Farrusca, ela chegou-se a mim mugiu ao meu ouvido, olhou-me nos olhos, abanou a cabeça... Fiquei com a impressão de que queria dizer-me:
- «Não fiques triste, homem, que os problemas hão-de ser resolvidos!»
Mas como é meu hábito fazer-lhe uma festa e isso não aconteceu naquele momento, porque eu estava tão preocupado que não me lembrei, ela mugiu de novo, desta vez num tom mais alto e encostou-se a mim.
Eu não estava bem sentado, desequilibrei-me e caí. Por acaso não me magoei, porque caí em cima dum fardo de feno, mas ela ficou tão aflita que tentou ajudar-me a levantar, metendo a patinha por baixo do meu corpo.
Nessa altura chegou o senhor Fagundes que presenciou o gesto da Farrusca, e disse:
- Só lhe falta falar!... O vizinho Barnabé nem sabe o bem que tem. Estime-a, estime-a, que não há segunda!
- Ora se a estimo! - disse eu - Então o vizinho acha que tudo o que faço pela minha Farrusca é de quem a não estima? Pois se ela é isto que vê, quem é que tinha coragem de deixar de a estimar, meu amigo!
- Não a estima tanto quanto devia, amigo Barnabé - disse o senhor Fagundes.
- Ora essa, não diga uma coisa dessas, senão ainda me zango consigo, amigo Fagundes!
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