domingo, 24 de fevereiro de 2013

O Atleta e o Velho Safado - Texto de Tino Cabralia

 
O Atleta e o Velho Safado - Texto de Tino Cabralia 
 
2028, o Brasil como a maior potência econômica mundial é sede pela primeira vez dos Jogos Olímpicos. (futurismo ou delírio???).
 
O rapaz de quarenta e dois anos acorda às onze e trinta com uma terrível ressaca em uma manhã chuvosa, negra e poluída na cidade de Santo André/SP. Ele é solteiro, tem quarenta e dois anos mas aparenta bem mais.
 
Pesa exatos oitenta e nove quilos e meio o que não lhe cai bem considerando ter um metro e sessenta e nove de altura. (um a menos do que este pobre cronista que abaixo subscreve).
 
A barriga proeminente e flácida cultivada em anos de sedentarismo encobre o cinto em torno da calça; as olheiras da ressaca em torno de seus olhos negros lhe dão uma aparência de zumbi, misturado com vampiro, o que de certo combina muito com seu cabelo cumprido e ensebado que não vê uma tesoura a tanto tempo.
 
Sua roupa maltrapilha e suja lhe dá uma aparência de mendigo vagabundo, o que aliás só não é verdade porque desde um ano após as Olimpíadas de Pequim recebe uma vergonhosa aposentadoria por invalidez da Previdência Social que lhe possibilita beber pinga e ligar para o disk-putas sem ter que pedir dinheiro nas esquinas da cidade.
 
Aposentou-se após sofrer os horrores da síndrome de «burn-out» ou para os puristas - crise aguda de estresse decorrente de sobrecarga no trabalho.
 
Olhou no espelho e não gostou do que viu. «As aparências enganam...os outros!»(pensou e sorriu sarcasticamente). Ligou a televisão e os canais só falavam da porra da merda das Olimpíadas de São Paulo. Desligou rapidamente. «– Que porra!» Gritou sozinho.
 
Saiu na rua e encontrou sua irmã toda atleta, toda animada, toda exemplo como sempre foi. – «Quer ir para São Paulo? Hoje é a abertura das Olimpíadas. Tenho ingresso!» Com um olhar perdido no horizonte e uma dor dilacerante no peito, recusou-se a responder....virou às costas e foi para o famoso bar do «copo sujo» de seu compadre Genésio como fazia todos os dias na hora do almoço desde que se aposentou.
 
Cumprimentou respeitosamente todos os bêbados que começavam a enfileirar garrafas na mesa. Pediu uma branquinha para variar, jogou dois dedos no chão para o santo do dia e começou a fazer sua fileira irregular de mini-copinhos de geléia.
 
A televisão do bar mostrava a porra da merda da festa de abertura Olímpica. -«Oooo Genésio desliga está merda!?»- Foi atendido prontamente.
 
 
 

 

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