domingo, 17 de fevereiro de 2013

Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações XLV - Por Daniel Teixeira - As diferenças da vida

 
Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações XLV - Por Daniel Teixeira - As diferenças da vida
 
Conforme tem sido notório aquilo que me tem interessado neste conjunto de crónicas e de uma forma geral noutros locais e formas onde intervenho, seja sobre a forma de crónica ou simples conversa, mesmo escrita que seja, o que me interessa, repito, é a história contada e feita pelas gentes.
 
A parte edificada, monumental, de arquivo secular, tem o seu interesse para buscar pontos de referência mas para mim o seu interesse remete-se a isso mesmo, à mera referência, ao apoio ou comparação através do escrito daquilo que é dito e sabendo-se que quem conta um conto acrescente um ponto, serve também para ajustar esses desvios quase naturais.

Cada pessoa tem (ou pode ter) a sua forma de ouvir e depois de contar e uma das minhas preocupações tem sido sempre analisar a divergência entre a «realidade» escrita e a realidade contada, tendo também presente que a realidade escrita contém já em si ou pode conter uma parte de imaginado ou de irrealidade.

Neste diferencial, entre aquilo que terá eventualmente acontecido e aquilo que é contado anos depois e por pessoas diferentes e que normalmente não é considerado científico, existe uma riqueza no imaginado ou na fidelidade que corresponde em grande parte ao desejado, ou seja, corresponde a uma posição ética sobre a realidade.

Eu explico melhor: a aceitação de uma história tal como ela aconteceu (ou terá acontecido) é sinónimo de aprovação dessa realidade, a desaprovação pelo menos parcial leva ao imaginado, à ficção.

Será sempre difícil, senão impossível, aquilatar da existência ou não desse diferencial memorial, do seu volume, das suas características, dos desvios mais prováveis, enfim, é «trabalhar» mesmo numa corda bamba, mas é um trabalho interessantíssimo que nos diz muito sobre a psicologia colectiva.
 
 
 
 

 

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