domingo, 10 de fevereiro de 2013

Dogville (2003) - Cinema pela Arte

 
Dogville (2003) - Cinema pela Arte 
 
«De forma alguma eu defendo atos de vingança no filme. Sei que algumas pessoas podem entendê-lo dessa maneira, mas que considero tão estúpida quanto aquela que chama Dogville de antiamericano.» — Lars von Trier
 
Dictum ac factum
 
Quando o assunto é «Dogville» (2003), provocativo tanto na estrutura quanto no argumento, parece inapropriado encetar uma análise com o estudo das regras do Dogma 95 — manifesto polémico formulado por Lars von Trier e Thomas Vinterberg, diretores que defendiam um cinema livre daquilo que avaliaram como artificialismos: iluminação especial, filmagens em interiores decorados, música não diegética...
 
Com «Dogville», filme resultante de um passado não completamente dogmático, Lars von Trier consolida-se como apóstata — não pejorativamente falando —, experimenta os prazeres das atividades que ele mesmo classificou como proscritas, e por fim atrai elogios (sem deixar de receber algumas críticas) na transgressão do «voto de castidade» que o radical movimento lhe exigiu.
 
A despeito da renúncia, a noção do cinema nu é de fato um resquício do dogma cinematográfico que permanece em «Dogville». Traços brancos sobre o chão escuro de um estúdio delimitam as residências, as ruas e a vegetação; do cachorro Moisés, animal um tanto significativo se considerarmos o ambíguo título do filme, temos apenas sua silhueta e o latido de protesto.
 
Com portas e paredes imaginárias, entende-se que o compromisso do diretor não é tanto com a aparência da realidade, mas com a acuidade das atuações e com a profundidade de campo.
 
Os atores são desafiados, fazem do lugar despido uma cidade e giram maçanetas ausentes, todos caminhando sobre o solo de uma parábola moral também em evidência por sua retumbância política.
O rótulo de antiamericano atribuído a «Dogville» é decerto coerente, mas também muito redutor, o diretor dinamarquês não desmente sua oposição aos Estados Unidos em si por puro desejo de provocar.
 
A ficcional Dogville, situada em território americano, sofre com os efeitos da Grande Depressão eclodida no final da década de 1920. Sem instituições que a fortifiquem como sustentáculo para a sociedade, Dogville feneceu, está podre como afirma o seu mais iracundo habitante. Nicole Kidman é Grace, maravilhosamente, a dádiva que aparece em Dogville para finalmente purificá-la.
 
 
 
 
 

 
 

Sem comentários:

Enviar um comentário