sábado, 23 de fevereiro de 2013

A FEIRA DO PAU ROXO - Por José Francisco Colaço Guerreiro - Publicado em «Património»

 
A FEIRA DO PAU ROXO - Por José Francisco Colaço Guerreiro - Publicado em «Património»
 
Ao redor de Castro,em lugares definidos por razões ocultas, erguem-se capelas, igrejinhas que resistem há muitos séculos ao esmeril do tempo e ao esquecimento dos devotos que as ergueram e branqueavam de cal pelo menos uma vez em cada ano, por ocasião da festa do patrono respectivo.

A escolha do sítio onde foram implantadas resulta, na maioria dos casos, da preexistência no mesmo lugar de altares ou simples práticas de culto a divindades que os povos de antanho reconheciam como suas protectoras, antes da vinda e acampamento dos cristianos.

Assim foi em S. Pedro das Cabeças, assim terá também sido em S. Martinho e quem sabe se o não foi igualmente em S. Sebastião, aqui à saída da vila, quando se toma a antiga estrada dos Geraldos, direito ao olival.

Certo é que em 1510, segundo as crónicas, esta ultima capela, feita de pedra e barro e com altar de taipa, coberta por telha vã e habitada por um só santo esculpido em pau, estavam já, ela e o morador a ceder ao peso dos anos, mostrando sinais evidentes da antiguidade de ambos.

Em cada vinte de Janeiro, lá acorria toda a vizinhança deste lugar para rezas e pagamento de promessas anuais feitas ao santo mártir. Fitas, azeite e depois velas de muitos tamanhos e feitios, lá ficavam em acção de graças pelos benefícios vindos através das suplicas . Muitos fregueses, fazem freguesia e a freguesia encanta os comerciantes que à margem da fé, mas aproveitando-se dela, lá iam também para armar a esparrela .

Deste jeito ou doutro idêntico, nasceu naquele lugar um arraial, um mercado, uma feira.
Lugar de fé e de venda.
Arredia da vila, a meia ladeira de um cerro, em sítio descampado como também convinha para o maior negócio que ali se fazia.

Porcos aos milhares, gordos com a bolota de todos os montados das redondezas, para ali convergiam e aguardavam que os negociantes os comprassem às varas.

Ao redor do santo estendia-se um mar de lombos pretos, deitados, arriados pelo peso das arrobas de carne postas na engorda e pelo cansaço das léguas andadas no caminho. No ar , misturava-se um cheiro intenso com um grunhido ensurdecedor. Os porcariços andavam numa fona, despejando gorpelhas de palha e saquilhadas de cevada no chão. Depois corriam com os caldeirões para as bicas para encherem os maceirões de água que não aturavam .
 
 
 
 
 

 

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