A lição do cambista - Crónica de Gociante Patissa
Sendo já consabida a carência do pós - quadra - festiva, fiz-me ao banco, anteontem, para esgotar o último pouco, muito pouco, da poupança.
De seguida, parei o carro sobre a rotunda do Kulinji, cidade de Benguela, para cambiar as três míseras centenas de dólares para kwanzas. Dez mil e quatrocentos era quanto cada centena valia.
Desfeita a algibeira, pôs-se o kínguila a conferir os kwanzas, pronto mesmo a entregar-mos, sem que tivesse um mínimo contacto sequer com o motivo do câmbio, no caso os dólares. Como sabes que as notas não são falsas? Confrontei o homem, como aliás, inutilmente talvez, sempre faço, na esperança de voltar a ver a velha preocupação do cambista em levantar a cédula para o sol, ou afagá-la entre o indicador e o polegar.
Dava-me mais conforto, receando se calhar ser vítima de milhares de falatórios que nos chegam sobre ardis de cambistas que te forçam a aceitar que tua nota era falsa. Mesmo porque, como disse, as notas eram as últimas, quando do salário de Dezembro e do décimo terceiro já só restam saudades.
Muito serenamente, o kínguila disse: o kota já costuma trocar aqui, eu já conheço. Mentira!, quase ripostei, pois há já um bom tempinho que meu suor não vale dólares. Como iria trocar o que não tenho? Além do mais, o carro que usei naquele dia é relativamente recente, pouco menos de três meses. Quer dizer, ele tratou-me como trataria qualquer um. Mas então, esses homens vêem excesso de honestidade nos seus clientes? Xiça!
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