Um Conto - Por João Manuel Brito Sousa - Um eterno recomeço
Iam aí pelas duas horas da tarde, quando um cavalheiro em dificuldades físicas e talvez materiais, um «mendigo», digamos assim, pelo menos foi que me pareceu e digo isto sem querer ofender ninguém, chegou às urgências do Hospital da cidade.
Ia com ele pelo braço, um, suponho, colega de «ofício», que, igualmente não estaria em muito bom estado de saúde. Os dois homens, revelando ambos muitas dificuldades, entraram na sala de espera, silenciosos e tristes porque o caso não era para menos. Falavam um com o outro pelo olhar, parecendo entender-se bem. Quem estava na sala, olhava para os dois homens revelando na face alguma tristeza, o que, digamos em abono da verdade, não os incomodava nada.
A vida tinha-lhes ensinado a ver com os olhos do coração e tinham compreendido já, desde algum tempo, que a vida é tão vasta e tão efémera como é tão complexa e tão frágil. Para estes homens, estar vivos ou morrer era indiferente, tinham-se preparado, quer para a derrota diante do último suspiro como se tinham preparado para preservar a saúde.
Cada um tinha a sua história; um homem sem História é como um livro sem letras, leram algures. Algum tempo, pouco, depois de entrarem na sala de espera do Hospital, a funcionária do serviço de atendimento, chamou-os para fazer a ficha de entrada, indo um deles até ao balcão, aparentemente, o que estava em melhores condições físicas e psicológicas, enquanto o outro, ficou sentado na cadeira. Qual é assunto que os trás cá?, perguntou a funcionária.
O meu amigo está mal, tem muitas dores e eu trouxe-o até aqui. E é seu Pai, filho, ou… qual é o grau de parentesco entre vocês? perguntou a referida funcionária. Grau ? Qual grau ?, Não há grau nenhum... vivemos no Parque, conversamos às vezes, é tudo… Mas não sabe quem é ele ? insistiu a funcionária. Nada, diz que tem dores é o que sei e por isso trouxe-o para aqui.
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