sábado, 17 de agosto de 2013

Mundo ao contrário - Crónica de VIRGINIA TEIXEIRA

 
Mundo ao contrário - Crónica de VIRGINIA TEIXEIRA  
 
Vivo num mundo ao contrário e já não sei qual é o topo e o fundo.
 
Vivo num mundo onde os políticos do meu país dizem de boca cheia, sem vergonha, que os seus cidadãos devem ir para o estrangeiro, como se dessem o caso por encerrado e o barco já tão perto de afundar que nada mais há a fazer senão correr para os barcos salva-vidas.
 
No mundo ao contrário onde vivo é legitimo gastar milhões em fogo-de-artifício para comemorar a passagem de ano (e vejam bem que eu adoro fogo-de-artifício) mas os pobres têm de apertar o cinto um bocado mais porque o país está em crise.
 
No mundo ao contrário onde vivo a solidariedade social é tão parca que há idosos a dormir nas ruas, e pessoas a morrer em casa sem serem descobertas durante semanas.
 
Neste mundo ao contrário é legitimo gastar dinheiro em touradas (o que afinal anima mais as pessoas do que uma boa selvajaria?) quando há milhares de cães abandonados por todo o país a morrer à fome, atropelados nas estradas (pensemos pelo menos nos acidentes que provocam!), e atirados ao lixo como se fossem coisas (que é o que são segundo a Lei).
 
Neste mundo ao contrário os professores, criadores da geração de amanhã, aqueles que têm o infinito poder de encher a mente dos nossos filhos de conhecimentos, e ensiná-los a pensar, são tratados como profissionais de somenos importância e, novamente, aconselhados a ir para o estrangeiro assim que possam. E a geração de amanhã, com quem aprende? O que aprende?
 
Ou também tem de ir para o estrangeiro?
 
 
 
 
 
 

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