Os dentes alvos da Aline - Conto de Daniel Teixeira
Eu acho que há sempre um sinal, um pormenor, um detalhe ou mesmo uma conversa que guardamos na memória primeira que temos de uma pessoa, de um acontecimento ou de qualquer coisa.
Deve haver, penso eu, no nosso cérebro e na nossa organização das memórias assim como que um elo de ligação escondido que desperta espontaneamente quando se fala de alguém, de um caso, de uma coisa ou quando não se pensa em nada, mesmo. E é quando essa memória, esse indício, aparece por acaso, não sendo nunca um acaso.
E esse sinal ou esses sinais aparecem, no nosso entendimento, como se não devessem estar ali. Mas estão ali, connosco, e vêm não se sabe como nem donde.
Tenho sempre dito que o nosso sistema mental funciona assim um pouco por cábulas, por indícios, por pequenos detalhes, por pequenas coisas que abrem a porta ou a gaveta onde está guardado o grosso da nossa memória de cada caso, caso a caso.
Só que essas cábulas, esses indícios que despoletam o resto daquilo que vamos pensar a seguir são assim como que um segredo da nossa mente, um mistério que só ela, a nossa mente, sabe interpretar. Nós não, não sabemos isso, conscientemente nem damos por nada e tudo se passa por um processo que nos ultrapassa.
Acho que é bom referir isto antes que comece a contar esta minha história, e é bom que saibam também que aquilo que acontece com todos nós é isso, uma coisa assim.
Por isso me lembro que me lembrei da Aline por causa dos seus dentes brancos, dos seus dentes extraordinariamente alvos e lembro-me que senti logo em seguida a ideia de que ela fumava. Via-a aliás, vi a Aline ali ao pé de mim a fumar.
Leia este tema completo a partir de 19 de Agosto carregando aqui.
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