domingo, 11 de agosto de 2013

Férias em Vila de Frades - Texto de Lina Vedes

 
Férias em Vila de Frades - Texto de Lina Vedes
 
Estamos em Julho de 2007.
 Como é possível ter conseguido reter na memória umas férias passadas no Alentejo em 1946/47?
 Claro, desse passeio a Vila de Frades, Cuba, existem lacunas, pontos completamente apagados. No entanto, há episódios que permanecem, tão nítidos, que me dão a sensação de terem acontecido ontem.
 
Sei que o passeio foi em tempo de Verão e que na casa para onde fui circulavam pessoas, todas mais velhas do que eu. Não sei porquê e como fui para lá, quanto tempo lá estive, o nome e a cara das pessoas que me receberam, e como regressei.
 Tinha 6 ou 7 anos.
 
Sempre vivi em Faro, que na altura mais parecia uma vila (embora capital), com pequenas habitações, trânsito automóvel quase nulo e todos a conhecerem todos.
 Nunca saíra da casa dos pais, e talvez por isso, a absorção de todas as vivências foi integral.
 Vila de Frades era um local pacato, tranquilo, totalmente diferente de Faro.
A primeira imagem que guardei, religiosamente, é de uma rua que subia e curvava à esquerda, com casas térreas, alinhadas, muito branquinhas, com grandes chaminés, com postigos nas portas e degraus de acesso.
 Lembro as noites sentados em grupo, no sítio onde cozinhavam, debaixo da chaminé, a contar histórias, anedotas, poesias, rezas, a entreter o tempo.
Uma senhora fazia meia, mas interrompia o trabalho lançando aos outros a sua sabedoria e experiência de vida. Como gostava de ouvi-la e como ela conseguia encantar, não só a mim, mas a todos os que a rodeavam. Todos bebíamos as suas palavras, um legado do passado, transmitido ao presente que haveria de se oferecer ao futuro.
 
Havia noites que não ficávamos em casa, íamos para a rua, com cadeirinhas baixas para nos sentarmos.
 O ar que respirávamos era puro, parecia santo. A conversa focava o trabalho, a luta pelo pão, pela sobrevivência, revelava o amor pela terra, pela família, pelos amigos, todo o sofrimento da alma.
 
 
 
 
 
 

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