quinta-feira, 22 de agosto de 2013

No fundo, temos todos o mesmo baço. - Recolhido em «As Leituras de Madame Bovary»

 
No fundo, temos todos o mesmo baço. - Recolhido em «As Leituras de Madame Bovary»
 
Falava ontem num jantar de amigos que, desde o Outono de 2011, que sou uma leitora frígida, incapaz de atingir o êxtase. Comparando mais uma vez os homens aos livros, há uns que nos fodem de tal maneira que nos tornamos depois insensíveis a outros toques mais desastrados.
 
Li recentemente Pais e Filhos de Ivan Turgéniev na esperança de me libertar do sortilégio de Rodion Romanovitch Raskólnikov. Tinha esperanças que o «pai» do nihilismo me libertasse. Mas devo confessar que, embora as boutades de Bazárov me tenham divertido bastante, este não chegou a apossar-se sequer de uma ponta de dedo minha.
 
Na primeira parte do romance, Bazárov é o nihilista perfeito, não deixando nenhuma ponta da argumentação por rematar.
«A educação? – retrucou Bazárov. – Cada pessoa deve educar-se a si mesma, nem que seja como eu, por exemplo... E quanto ao tempo, porque hei-de eu depender do tempo? Antes dependa ele de mim.
 
Não, meu caro, tudo isso é desleixo, futilidade! E que são essas relações enigmáticas entre o homem e a mulher? Nós, os fisiologistas, sabemos que relações são essas. Tu estudas a anatomia dos olhos: onde ir buscar aqui, como tu dizes, um olhar enigmático?
Tudo isso é romantismo, disparate, literatura. Melhor é irmos ver o escaravelho.»
 
Mas uma argumentação perfeita apenas garante um nihilismo teórico e rapidamente desejamos ver Bazárov a embater com as realidades que despreza para vermos como se safa. E eis que este se apaixona por uma dama (essa sim, uma verdadeira nihilista certificada não apenas pelo pensamento mas pela vida) e descobrimos que afinal Pável Petróvitch (figura aristocrata e romântica que Bazárov tanto despreza) e Evguéni Vassílitch aka Bazárov não são assim tão diferentes. Aliás, as damas fatais de ambos partilham algumas semelhanças.
 
 
 
 
 
 

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