HISTORINHA DO MEU PAI - Sandra Fayad
No dia primeiro de setembro de 2006, ele completou noventa e um anos. Sua trajetória de vida foi recheada de acontecimentos inéditos, grandes sacrifícios e trabalho, muito trabalho...
Como todos os homens de bem da sua geração, sempre primou pela responsabilidade e pela incansável luta, com o objetivo de proporcionar à família o melhor de si.
Assim é que desde os primeiros momentos da instalação da Capital Federal percebeu que poderia fixar-se aqui. Veio, como outros tantos, oferecer sua coragem, seu empenho e seu suor em troca da perspectiva de conforto e boa educação para os seus.
As necessidades de alimentos e serviços dos trabalhadores instalados na nova capital eram muitas e ele, comerciante nato, vinha todas as semanas da cidade de Catalão, a trezentos e vinte quilómetros daqui, trazendo, em seu velho caminhão, os alimentos encomendados e os que conseguia reunir, para atender às bocas trabalhadoras.
Estrada de terra batida, com trechos esburacados e desbarrancados, temporadas de chuvas torrenciais, noites em claro, acidentes, nada disso tirava-lhe o ânimo.
Trouxe a família, - esposa e seis filhos - primeiro para um barraco em Sobradinho, depois para outro no Cruzeiro. As condições precárias só o estimulavam a trabalhar mais e mais para conquistar o tão sonhado lugar ao sol.
Feirante em vários locais, primeiro a instalar-se no Cruzeiro Velho, deu tudo de si, solidarizou-se e compôs com outros feirantes, cedeu e negociou seus produtos, tendo como documento apenas a confiança, o fio da barba.
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