sábado, 3 de agosto de 2013

A Falecida (1965) - Texto Recolhido em Cinema Pela Arte

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A Falecida (1965) - Texto Recolhido em Cinema Pela Arte
 
«A Falecida» tinha isso, a minha convivência com o subúrbio e mais os problemas de autodestruição da mulher, o desemprego, a alienação, a presença do futebol, valores que vi de perto. Por isso, me apaixonou mesmo fazer.» — Leon Hirszman
 
O desejo da morte como o ápice da resignação
 
 No mínimo é interessante que Leon Hirszman tenha filmado «A Falecida» (1965), peça de Nelson Rodrigues sobre a morte desejada, após um acidente automobilístico sem graves consequências, mas suficientemente sério para explicitar a tenuidade da vida.
 
Foi mesmo logo após o acidente na pista molhada da Lagoa, bairro do Rio de Janeiro, que Leon, provavelmente com o coração ainda acelerado, viu-se diante da possibilidade de realizar seu primeiro longa-metragem — Billy Davis, que estava à procura de Leon, fez o convite ali mesmo, durante o encontro fortuito.
 
Glauber Rocha abriu caminho para Hirszman quando resolveu abandonar a direção de «Senhora dos Afogados» por preocupação com o próprio temperamento, sua saída de cena foi seu modo de prevenir uma contenda muito provável entre autor e autor (Glauber, inflexível, e Nelson, criador da peça).
 
Após denunciar com o severo curta «Maioria Absoluta» a penúria de milhões de analfabetos, trabalhadores braçais do Brasil iníquo, Leon Hirszman, como um fiel sequaz do movimento cinemanovista, sente-se atraído pela alienação disseminada no subúrbio carioca, cenário de «A Falecida», peça estimulante também pelo seu viés psicanalítico.
 
Se Glauber mostrou-se ideal para reger «Senhora dos Afogados», Leon tinha evidente compatibilidade com «A Falecida». Filmar a trajetória lúgubre de Zulmira significou o retorno do cineasta ao convívio com a vida suburbana, projeto cinematográfico que lhe facultou a oportunidade de um segundo olhar sobre a obsessão pelo futebol, fomentador da alienação coletiva, alívio prejudicial para muitos desempregados, e sobre o lugar de submissão e menoscaso que era reservado para a mulher.






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