sexta-feira, 5 de abril de 2013

Reflexões no meu outono (I) - Retorno à trincheira - Autoria: Cecílio Elias Netto

 
Reflexões no meu outono (I) - Retorno à trincheira - Autoria: Cecílio Elias Netto
 
Piracicaba está assistindo ao plantio ganancioso, ilógico, descompromissado de couves. Há, ainda, uma elite pensante? Se houver, está cansada, amedrontada, acovardada.
 
Movimento é mudança. Os seres vivos movimentam-se. Logo, todos eles mudam. Pessoas, plantas, animais e – se bem pensarmos – também as pedras mudam, movidas pelos ventos e pelo homem, enfeitadas por ervas boas ou daninhas. Para o ser humano, mudança tem sabor de tragédia. Porque desestabiliza, tira sossegos, exige posicionamentos ou obriga a inércias. E, diante da tragédia inelutável, fica o desafio: o movimento promove mudanças para pior ou para melhor? Nesse cenário, há que se posicionar o homem.
 
Vi, quando menos esperava, meu universo pessoal ser, todo ele, invadido, agredido, violentado. Eram pobres moços, destruídos por drogas, sem qualquer noção moral. A eles submetido naquelas horas de perplexidade, não consegui vê-los como bandidos, nem como imorais. Neles, estava impressa a amoralidade de um tempo, de uma época. Os rapazes, fazendo-se agressores, não sabiam distinguir certo de errado, bem de mal, bom de mau. Foi-me uma experiência pessoal totalizante. Pois vivi a teoria na prática.
 
Algum tempo depois – e por longos meses – graves problemas abalaram-me a saúde. Foi uma longa e árdua luta. Mas resisti, ainda que com dificuldades que permanecem. Um dos meus médicos, com sua sabedoria oriental, me falou: «'O Criador ainda espera alguma coisa de você.» Pensei muito nisso. Não sei se é o Criador, se um compromisso que assumi perante a vida, se um destino. O fato é que me é impossível ficar alheio à minha terra e à minha gente. Retorno, pois, à trincheira, lembrando-me do que, com raiva, um ex-amigo – tornado feroz inimigo – costuma dizer: «Ele é como a Fênix. Quando se pensa que morreu, retorna.» Assim seja.
 
Diante de dificuldades e lutas – que, na verdade, foram momentos especiais de acerto de contas comigo mesmo – limpei-me de equívocos e entrei, por fim, na reta final que tanto procurei. E é um outro o papel que, agora, me reservou a vida. Não tão diferente de quantos já vivi. Mas mais maduro e, talvez, o definitivo.
 
 
 
 
 

 
 

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