domingo, 7 de abril de 2013

ESTAVA DESTINADO - Texto de Lina Vedes

 
ESTAVA DESTINADO -  Texto de Lina Vedes 
 
Isaura nasceu em casa, em 1945, na cidade de Faro, na Rua Caçadores 4.
 A mãe, com 39 anos de idade, era considerada velha para ter filhos, mas… aconteceu um descuido que ocasionou uma gravidez complicada, um parto longo e doloroso, alarmando a família e a parteira/curiosa.
 
No lar já existia uma irmã com 10 anos, Luísa, que ansiava pela chegada da cegonha que traria no bico um bebé. Cheia de esperança e desconfiando que a andavam a enganar, espreitava o céu através das vidraças, aguardando esse irmão ou irmã embora estranhasse a gordura da mãe e a dificuldade que ela demonstrava para se mexer…
 
Os avós maternos viviam nos Gorjões, perto de Santa Bárbara de Nexe, e os paternos em Guimarães.
 Os pais quando casaram foram viver com eles mas a mãe morria de saudades do seu Algarve e regressaram.
Luísa não era algarvia, era da terra «berço de Portugal».
 Enquanto esteve em Guimarães a mãe das meninas aprendeu a bordar. Revelou-se dotada na arte da agulha passando a ajudar a sogra que trabalhava para as lojas.
 
Os trabalhos mais solicitados eram os bordados de viana do castelo executados em linho caseiro com linhas de algodão brancas, vermelhas e azuis, utilizando diversos pontos – cadeia, abertos, caseados, cheio, cordão, crivo, espinha de peixe, formiga, nozinhos, pé de flor, pesponto, atrás, bicos de galo…
 Os de maior dificuldade eram as colchas de linho bordadas a castelo branco com a utilização de bastidores e linhas de seda natural tingidas com cores diversas.
 
 Ao regressar a Faro a mãe de Luísa e de Isaura, aos poucos, foi ganhando fama como excelente bordadeira.
 Era comum a preocupação das noivas levarem para o casamento um enxoval rico em qualidade e quantidade. Casar era o único objectivo das raparigas, ficar solteira era uma tragédia!
 
 Trabalho não faltava à mãe das meninas que destinou a casa de entrada da habitação para receber as clientes. Junto à janela colocou uma máquina de costura e ao lado uma cadeira de tábua, baixa, onde se sentava a bordar. Uma mesa servia para cortar as peças de lençóis e para espalhar desenhos e revistas – «mãos de fada»,«lavores», «para ti», «desenhos e bordados»…
 
 
 
 

 

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