sábado, 13 de abril de 2013

EU E PADERNE - Por João Manuel Brito Sousa

 
EU E PADERNE - Por João Manuel Brito Sousa
 
O Manuel foi a causa próxima da minha primeira relação com PADERNE. Foi há muitos anos atrás, tinha eu seis ou sete, quando apareceu lá por casa um rapaz natural daí, a pedir trabalho. Eu sou natural da zona das hortas próximas de Faro, mais propriamente do sítio dos Braciais, que dista aí uns cinco Kms da capital do distrito e a minha mãe, tinha uma pequena horta onde se semeava o milho, as batatas, o feijão, muitas hortaliças e outros bens alimentares, criava gado e matava-se o porco no Natal e o galo pelo Entrudo. No Verão, o trabalho era muito e as regas ocupavam todo o tempo.
 
O Manuel deveria ter chegado a minha casa no início dos anos 50 e foi admitido como trabalhador rural. Nessa altura um trabalhador rural já feito, ganhava vinte escudos por dia. Foi na época da forte da emigração para a França e um pouco antes dos alentejanos começarem a descer para o Algarve à procura de trabalho, por causa do aparecimento, da máquina ceifeira (uma história que penso estar ainda por contar), que o Manuel por lá apareceu.
 
A categoria profissional destes prestadores de serviços era a de «criados»... «Estou a servir na casa de fulano», diziam, e a remuneração era de cem escudos por mês, comida e hospedagem. Não era uma profissão invejada, porquanto se situava na dependência de um patrão que, às vezes, se excedia na forma de relacionamento: «Oh Manel, levanta-te lá, pá! Tens que ir buscar palha à eira que o gado precisa de comer e, depois, está a rega daquela folha lá em baixo por fazer.»... coisas assim.
 
Lembro-me muito bem dessa língua de terra, que a minha mãe tinha lá em baixo, aonde às vezes a rega calhava de noite, pois a água vinha de uma nora de cinco ou seis herdeiros, e muitas vezes eu ia com o Manel fazer a rega, de candeeiro de carro na mão, às quatro da matina.
 
 
 
 

 
 

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