Memórias Pelo Fogo... - Conto de Madalena Luz - (Retirado do Blogue Delírios e Certezas)
O crepitar da madeira, o cheiro da lenha a arder. o fumo que por vezes traiçoeiramente se escapava para fora da chaminé sempre a encantara, por vezes fixava por longo tempo a chama tentando vislumbrar imagens produzidas por ela, quase todas abstractas mas de uma beleza rara, admirava o poder do fogo, significava para ela a partilha, a família, o conhecimento, as tradições, os serões em casa dos avós à volta daquela fogueira tão especial acesa no lar da chaminé de pano na cozinha, onde o avô era a figura central, homem recto, integro, o verdadeiro patriarca, onde tudo era concebido do seu jeito e segundo a sua vontade, todas as grandes decisões dos seus filhos, genros, netos, filhas e netas (porque a ordem era esta, primeiros os homens e depois as mulheres) eram-lhe comunicadas e analisadas por ele, nada lhe fugia do controle, todos o respeitavam e de certa forma o temiam, por ele ser tão austero.
Ela não, nunca tivera medo dele, amava-o acima de tudo, conseguia ler-lhe nos olhos negros o amor que ele tinha pelos seus, quando ninguém estava por perto, o avô deixava, a neta sentar-se no seu colo e depositar um beijo na sua face trigueira que cheirava sempre a alfazema, depois ele pegava na sua pequena mão, que desaparecia na sua, grande e calejada devido ao trabalho duro do campo, dizendo-lhe com um sorriso: -
«Já chega minha neta, és a mais atrevida de toda a família!»
- No seu leito de morte quando ela o visitava, reconhecia-a dizendo-lhe sempre « - A minha menina!»
- No seu leito de morte quando ela o visitava, reconhecia-a dizendo-lhe sempre « - A minha menina!»
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