sábado, 27 de abril de 2013

A Lenda da Senhora Matilde e da «San Líjà Bote» - Por João Furtado

 
A Lenda da Senhora Matilde e da «San Líjà Bote» - Por João Furtado
 
Vestida imaculadamente de branco, a senhora Matilde, sim era este o nome da velha que diariamente sentava-se a berma do rio Papagaio.

Usava saias longas e de pregas e uma blusa de mangas folhadas. Esperava alguém, alguém que deveria voltar e nunca mais voltaria. Aquela zona era denominada de «San Lijà Bote», em português, senhora Luísa Bote.
Que esperava a senhora Matilde? Alias quem esperava ela? O João diariamente passava por ela e tornava a passar. Passava para ir a escola e passava de novo quando voltava para a casa. A senhora Matilde lá estava.
Ia bem cedinho e só regressava a noite. Há anos que ela passava o dia sentada. Alimentava de cola e agua. Graças a Deus a cola era uma semente milagrosa. Bastava uma semente para não se sentir a fome durante longo período do dia e era fácil de se conseguir.

O fazia ela sentada ali e quem esperava ela?
 A agua cristalina e transparente descia rio abaixo até o mar alheio a tudo e a todos e a Senhora Matilde, alheia a tudo que passava a sua volta fixava os olhos no rio e via a agua correr na sua trajectória milenar, enquanto respondia a todos que por ela passassem o «Passô» com outro «passô».

Ninguém mais se importava com ela. O hábito de ficar sentada a beira do rio já se havia transformado em normal, natural.
 
Um tão estranho hábito tornou-se habitual e quando o estranho se transforma em normal, ninguém mais liga. A Senhora Matilde já tinha se tornado em parte integrante do ambiente.
 
Um dia ela não pode ir, ela tinha apanhado uma ligeira gripe, ai sim todos acharam anormal e correram para a casa dela, para saberem o que havia acontecido com ela.

O João sabia o caminho que devia seguir de cor e salteado. Nunca deveria encurta-la. Devia ir tomar sempre a ponte e atravessar o rio, seja porque razão ou motivo for.
 
 
 
 

 

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