Mamãe, tudo bem? - Texto de Ivone Boechat
Comum é o telefone tocar, periodicamente, e do outro lado da linha, uma voz perguntar: - Mamãe, tudo bem? E a resposta vem, carinhosamente: - é você, meu filho - tudo bem?
Parece que o filho está muito preocupado com a mãe, porque faz sempre a mesma coisa: liga; conversa muito; conta das promoções no emprego; fala das maravilhosas viagens pelo Brasil e no exterior; promete que no Dia das Mães não vai faltar; é atencioso e mostra-se um grande filho, principalmente nos dias de festa. Enquanto isto, não é capaz de pesquisar se a mãe está vivendo, realmente, muito bem.
Geralmente, as mães vivem, hoje, uma grande crise de sobrevivência: aposentadoria ridícula - as que pagam aluguel estão muito ansiosas e, praticamente a maioria delas não poderia dizer que está tudo bem. Contar que as coisas estão difíceis preocuparia ao amado filho, e elas, por amor, não revelam a situação.
E é raro o filho que se sensibiliza com as dificuldades da mãe. Como viver muito feliz, recebendo apenas alguns pequenos presentes, durante o ano? Mas é assim que muitas mães vivem: de passados e ridículos presentes. Desculpas para não se importar com as mães?
São muitas:
- Não posso ajudar à mamãe, porque agora tenho minha família.
- Não posso visitar minha mãe, porque estou cansado, acabo de chegar de outra viagem internacional...
São muitas:
- Não posso ajudar à mamãe, porque agora tenho minha família.
- Não posso visitar minha mãe, porque estou cansado, acabo de chegar de outra viagem internacional...
Estas, e outras, que não chegam a convencer a ninguém. Aquela frágil mulher - mãe desdobrou-se e foi capaz de trabalhar para sustentar muitos filhos, e agora, não pode contar, muitas vezes, com nenhum deles.
A educação tem falhado, sistematicamente, todas as vezes que a família deixa, à mercê da miséria, a mãe. Que amor é este que se ensina, incapaz de deixar perceber a dificuldade do outro?
As características do amor revelam-se na capacidade de doar; de dividir o pão; de abrigar; de cuidar, na alegria ou na tristeza; de estender a mão e adivinhar o que o outro precisa, antecipando-se ao pedido. Toda mãe tem vergonha de pedir para ela, mas é capaz de mendigar para o filho.
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