A vocação ostentória portuguesa permanece... - Texto de Eduardo Lourenço (2000), Prémio Pessoa 2011 - Recolhido em LIVRES PENSANTES
A vocação ostentória e boémia da nova classe política, militar e civil passa as raias do entendimento e só em termos freudianos pode ser compreendida. Nos tempos oficialmente económicos do mal falecido fascismo, o regime organizava em permanência sumptuosos banquetes publicitários ( centenários, congressos, celebrações de tudo, canonizações de obscuros bispos de séculos em que Portugal não existia) destinados a comprar as consciências mais delicadas da democracia ocidental.
A vocação ostentória e boémia da nova classe política, militar e civil passa as raias do entendimento e só em termos freudianos pode ser compreendida. Nos tempos oficialmente económicos do mal falecido fascismo, o regime organizava em permanência sumptuosos banquetes publicitários ( centenários, congressos, celebrações de tudo, canonizações de obscuros bispos de séculos em que Portugal não existia) destinados a comprar as consciências mais delicadas da democracia ocidental.
Os que assistiam a esses ágapes podiam lembrar-se deles e evocá-los com trémulos na voz passados quinze anos, e os que os davam, convertê-los em efemérides glosadas em tom épico nas colunas do Diário de Notícias, d' O Século ou do Diário da Manhã.
A eterna ingenuidade dos profissionais dela podiam imaginar que, no dia em que esse regime do privilégio insolente e do arbítrio puro desaparecesse, essa escandalosa exibição para Europa ver cederia o lugar a uma democrática, austera aplicação dos dinheiros públicos.
Engano puro: ninguém ousa apresentar a conta dos inumeráveis gastos do tipo sumptuário e exibicionista que os novos ricos da política nacional acharam por bem efectuar. Se a título individual a nossa mentalidade de ricos nos obriga a contorções caras, mas com juros à vista, a título oficial, a mesma mentalidade opera sem entraves e a responsabilidade dissolve-se ao abrigo da vaga rubrica dos «interesses superiores do Estado».
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