Fundação Logosófica – Em Prol da Superação Humana - São Paulo - O sentimento, força existencial da natureza humana - Carlos Bernardo González Pecotche – RAUMSOL
Entre os múltiplos aspectos que configuram a psicologia humana, o que diz respeito à sensibilidade é um dos mais importantes e que mais influem durante o curso da vida.
O estudo a fundo desta questão, dada a sua peculiaridade íntima, merece uma discriminação de seu conjunto. Assim, e para obter uma mais clara e precisa compreensão dos valores que representa, será necessário classificá-la em duas categorias. A primeira abarcará tudo o que diz respeito ao próprio sentir nas relações do ser consigo mesmo; a segunda, toda a extensão que transcende a órbita da primeira. Em ambos os casos a sensibilidade costuma se aguçar, seja por aquilo que afeta o ser de modo íntimo e pessoal, quer dizer, pelo que o afeta diretamente, seja pelo que afeta exclusivamente os demais. O mesmo se dá com os acontecimentos felizes, de grata repercussão para a vida.
Uma circunstância, um acidente, uma desgraça, seja pela perda de seres queridos, ocasionada por distanciamentos ou falecimentos, seja por perda de bens, etc., produz lógicos abalos sensíveis em quem é atingido por tais coisas, sendo sua própria consciência a que registra o fato que o comoveu. Mas, quando o que ocorre afeta a outro e igualmente se sente uma profunda comoção, o fato então assume um caráter diferente. Este é o caso que motiva nosso estudo, pois o consideramos o mais importante, e o que mais vivo interesse desperta, por sua especial particularidade.
Quando se chega a sentir ou, melhor dizendo, quando se experimenta um sentir de tal natureza por outro ser, estabelece-se de fato um vínculo existencial, ou seja, conectam-se duas existências sensíveis: sendo assim, produz-se uma espécie de prolongamento da vida de um em outro, pois tudo o que acontece com aquele a quem se estende o sentir é como se acontecesse com o próprio que experimenta o efeito sensível, adquirindo este maior intensidade ao manifestar-se pela força de um afeto, e mais elevada condição quanto maior for a pureza e o desinteresse que o inspire.
A natureza humana costuma reagir por meio da expressão dos próprios sentimentos, quando outros seres sofrem injustiças. Neste caso, sente com a humanidade e experimenta a angústia que sua própria sensibilidade exterioriza como sinal inconfundível de solidariedade para com seus semelhantes. Agora, quando o sentir se circunscreve a seres determinados, estabelece-se, como ficou dito, uma vinculação existencial, ou seja, a extensão do sentimento de um ao sentimento do outro. É a vida que se amplia, experimentando o ser em si mesmo os sofrimentos, contrariedades ou alegrias que se promovem na vida daqueles que estão conectados a seu sentir. Daí que seja tido em grande apreço tudo que se refere ao sentimento.
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