domingo, 28 de abril de 2013

Jornal Raizonline nº 220 de 29 de Abril de 2013 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XLI)- A frustração mascarada

 
Jornal Raizonline nº 220 de 29 de Abril de 2013 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XLI)- A frustração mascarada

Nesta vida que levo, na sua grande parte relacionada com pessoas ligadas à arte e à cultura tenho encontrado um pouco de tudo como opinião sobre as diversas formas de encarar na grande parte dos casos, o fracasso.

Quando falo de fracasso não estou, como é claro, a referir-me ao fracasso global, àquela deprimente situação continuada em que as pessoas (algumas) fazem aquela singela pergunta: «o que estou afinal eu aqui a fazer?» acrescentado desde logo e no seguimento todo um rol de insucessos que fundamentam, na sua perspectiva, a resposta que se segue normalmente: «Nada! Não estou aqui a fazer nada!».

O fracasso que eu falo nada tem de global nem de doentio nesta forma de ver: é o fracasso caso a caso, pontual, que eventualmente e através da sua soma pode um dia, pode - digo bem - levar à colocação da tal questão existencial que referi acima, ou seja, pode levar a isso, se for metodicamente somado e inserido num mesmo campo.

Mas é tudo uma questão de perspectiva, também: o optimista, como eu julgo ser, nunca junta os fracassos no mesmo saco. Tem o cuidado de espalhá-los por diversos compartimentos memoriais e mesmo quando a mente nos coloca aquela partida de que falava Descartes (entre outros, diga-se) de nos meter os «espíritos maus» a falsear-nos o entendimento (o Diabo, sabe-se lá), o optimista joga mão da racionalidade e combate, de uma forma serena e num campo diverso, essa maléfica tentação.

Por isso, e voltando ao fio da meada que ainda não se perdeu, cada fracasso é único, solteiro e sem compromisso. Nada de estar a procurar semelhanças entre eles, pontos de convergência ou a semelhança de causas das quais ele deriva. A uma dada causa segue-se, em princípio, um dado efeito, mas não está garantido que seja assim, porque há milhares senão milhões de efeitos e nós procuramos por sistema, na nossa forma usual de pensar, causas dentro de uma seriação sempre resumida. Assim por alto e garantindo desde já que isto não é científico, por cada causa existem milhares de efeitos possíveis e por cada efeito existem milhares de causas possíveis.
 
 
 
 

 

A Lenda da Galinha D´Angola - Por Antônio Carlos Affonso dos Santos - Acas

 
A Lenda da Galinha D´Angola - Por Antônio Carlos Affonso dos Santos - Acas
 
Certa vez o «poetinha» Vinícius de Morais, fez uma poesia em homenagem à galinha d´angola:
 
A Galinha d' Angola
autor: Vinícius de Moraes
 
 Coitada, coitadinha
 Da galinha -d'Angola
 Não anda ultimamente
 Regulando da bola
 Ela vende confusão
 E compra briga
 Gosta muito de fofoca
 E adora intriga
 Fala tanto
 Que parece que engoliu uma matraca
 E vive reclamando
 Que está fraca
 Tou fraca! Tou fraca!
Tou fraca! Tou fraca! Tou fraca!
 
 Tinha razão o poeta; a galinha d´angola, com quem convivi amiúde nos tempos de eu menino, nos campos da Fazenda são José, município de Cravinhos (SP); gosta mesmo de dizer (ou fazer-se entender) de quê está fraca!
 
E elas são péssimas chocadeiras (abandonam os ninhos ou espalham a maioria dos ovos para fora dos ninhos), porém há de se creditar a elas que são poedeiras das melhores, de todas as aves que conheci.
 
Lembro-me bem de como eu tinha curiosidade; pois a galinha d´angola é a única ave que conheço que é dotada de um chifre (ou corno). Lembro-me muito bem que, certa vez, encontramos um ninho de galinha d´angola, um pouco distante de casa (elas sempre fazem ninhos longe das balbúrdias e barulhos, o mais afastado possível; só se denunciam logo após porem os ovos: elas emitem um canto mui diferente do «Tô Fraca», quando ouvimos esse «canto diferente», fomos conferir: quarenta ovos!!!!
 
Depois de anunciarmos o fato, minha mãe (saudosa dona Guidinha) mandou-nos recolher os ovos e deixar apenas meia - dúzia deles no ninho, com uma recomendação: não pegar os ovos com as mãos e em tocar com as mãos as palhas e ervas que ela havia coberto o ninho, pois as galinhas d’angola têm olfato apurado e abandonam o ninho se perceber que ele foi violado.
 
Assim, de posse de uma concha de alumínio, seguimos até e o ninho e colhemos 34 ovos, que passaram de imediato, para um ninho de galinhas comuns, que posteriormente os chocaram e geraram vinte novas galinhas d´angola (os outros quatorze ovos foram fritos estrelados ou passaram a fazer parte de pães e bolos da D. Guidinha... ).
 
 
 
 

 
 

Poesia de Albertino Galvão - Tanta; Se soubesses...

 
Poesia de Albertino Galvão - Tanta; Se soubesses...
 
 
Tanta
 
 Tanta voz sem ter razão
 Tanta razão abafada
Tanta gente sem ter chão
 Tanta vontade estafada

Tanta reza tanta fé
 Tanta jura a soar falso
 Tanta letra em rodapé
 Escondendo o cadafalso

Tanta infância sem futuro
 Tanto homem sem presente
 Tanto rosto cinza escuro
 Onde a tristeza se sente
 
Se soubesses...
 
 (escrito a pedido de alguém e para alguém)

Se tu soubesses...
 ai, amor, se tu soubesses
 em que portas eu me escondo
p’ra fugir ao teu desprezo...
 porque postigos espreito
 as saudades a passar...
 onde enterro os meus desejos
 e os prazeres... onde os consolo
 quando a noite se apodera
 das vontades do meu corpo
 e as estrelas me incendeiam
a saudade do teu corpo...
 dos teus seios...
 dos teus beijos...
 
 
 


 

POESIA DE MARIO MATTA E SILVA - Perfeição; Poema à solta; Instantes de Emoção

 
POESIA DE MARIO MATTA E SILVA - Perfeição; Poema à solta; Instantes de Emoção

 
Perfeição

Eu busco a perfeição
 Desatinadamente
 Remoinhando ao vento
 Nas pulsações do coração
 Que tão pungentemente
Sufoca de lamentos.

Eu busco a perfeição
 Desenfreadamente
 Consumido no pranto dos dias
 De desilusão em desilusão
 Desumanamente
 Em sonhos, nostalgias.
 
Poema à solta

Como gosto vaguear
 nas branduras de quem canta
 preso às onduras do mar
 ter uns olhos que nos encanta.

O maravilha da alma
 que não sabemos retê-la
 na foz do rio anda calma
 no teu peito vou prendê-la.

Rejeito o mau, o perverso
 o desatino em que estamos
 e canto à solta estes versos
 para ver se nos amamos.
 
Instantes de Emoção

Abri a janela de par em par
 Para arremessar um grito angustiado
 O vento atirou-o para um longe lugar
 Talvez o guardasse numa nuvem baloiçante
 Lá tão além e tão distante
 Que o som perdeu-se, pulverizado.

Emoções outras trago e arrasto
 Num ecoar forte e vasto
 Que perpetua o meu ser
 Até que um dia, ao perecer
 Se desfaçam em gotas de cristal
 Feitas do que transportei do bem e do mal.
 
 
 
 

 

UMA ESMOLINHA POR AMOR DE DEUS... - Texto de Lina Vedes

 
UMA ESMOLINHA POR AMOR DE DEUS... - Texto de Lina Vedes
 
Pelos anos 40 era hábito, na minha zona residencial, freguesia de S. Pedro, Faro, haver dia e hora marcada, para dar esmolas a pedintes (não sei se noutros pontos da cidade acontecia o mesmo).

Na rua Baleizão, os moradores escolheram o sábado, e a minha mãe marcou, as 11 horas.

Era um hábito enraizado, condenado teoricamente pela igreja, que nas aulas de catequese, martelavam os ouvidos, ensinando, que a mão esquerda, nunca deve presenciar a dádiva da direita.

Muito antes da hora marcada, já homens e mulheres, surgidos não sei de onde, se agrupavam pelos diversos cantos da rua e do largo, a entreter o tempo, uns de pé, coscuvilhando, outros sentados no lancil, a esfregar os pés sujos com as mãos, a cochilar, a coçar-se, e por incrível que pareça, a catar piolhos, e a deitar para o chão a ranhuça que pingava…

Repentinamente, em cima das 11 horas, alguém se aproximava da porta de minha casa, e de imediato, uma chuva de gente corria, tapando por completo, toda a entrada.

Mulheres vestidas de um negro já debotado, com xailes pelos ombros e lenços atados, por baixo do queixo, tapando os cabelos, umas descalças, outras chancelando ou calçando alpercatas de pano e sola de corda, acotovelavam-se, para disputar lugar privilegiado.
 
 
 
 

 

Poesia de Edyth Teles de Meneses - A VIDA DEU-ME…; AGUAS FURTADAS; AMIZADE

 
Poesia de Edyth Teles de Meneses - A VIDA DEU-ME…; AGUAS FURTADAS; AMIZADE 

 
A VIDA DEU-ME…



A vida
 Deu-me uma rosa
 Porque me viu chorar
 Mas como sou teimosa
 Não consegui controlar
 Peguei nela com jeitinho
 E também com emoção
 Encostei-a ao meu peito
 Bem junto ao coração
 Parei então de chorar
 Olhei p’ra vida a sorrir
 E comecei a pensar
 No que ainda pode vir
 Virá alegria…amor
 
AGUAS FURTADAS…



Naquelas águas furtadas
 Onde mora o amor
 São águas muito paradas
 Onde se ama com ardor
 Das janelas vejo o rio
 Com seu belo movimento
 Vejo também um navio
 A navegar lentamente
 E o barco do amor
 Com o qual sempre sonhei
 Queria navegar nele um dia
 E nele amar loucamente
 E sentir que era amada
 Mas como o amor é magia
 
AMIZADE
 
 Amizade é…
 Palavra de eleição
 Amigo é…
 Sua componente
 Amigo …
 Está no coração
 Amizade…
 Vive com a gente
 Amizade…
 Palavra pura e bela
 Quando sincera e leal
 Amizade…
 Quando existe é singela
 Eu preciso dela…
 Para viver…
 Amizade…
 
 
 
 

 

Equação da Paz - Texto de Sergio Antonio Meneghetti

 
Equação da Paz - Texto de Sergio Antonio Meneghetti
 
A Paz tão querida, sonhada, ansiada e buscada e outros «ada» é geralmente objeto de movimentos, instituições, ações individuais ou coletivas e até o oposto, objeto e motivo para a guerra.

O ser humano quer impô-la como forma de amainar a animosidade que desprende do interior humano, mas pouco pode realizar neste intento.

Por que existe a não Paz?
 No meu ponto de vista, é porque a Paz é o resultado da somatória da Paz individual, e esta Paz individual, é resultado da melhora individual do ser como um todo, digo ser porque falta Paz também no reino animal e vegetal se for feita uma analise profunda.

No fundo a Paz é fruto da maturação do ser ou espécie pela longa estrada da evolução, e sem trilhar este caminho o ser não pode se lapidar para adquirir conhecimento, moral, sabedoria e nobreza de caráter. São estes atributos que lhe conferem condições espirituais e biológicas para ser pacifico. E ser pacifico acima de tudo é entender a sábia mecânica da vida, que por sua vez trabalha no sentido de dar os subsídios para que a evolução aconteça.

Há quem diga que a evolução é o resultado do «acaso», eu diria que o «acaso» é o resultado perfeito da ação da lei que rege o universo, pois se o «acaso» gera ordem, logicamente há algo ou alguém que promove este «acaso». Sendo mais direto, tanto a evolução quanto o acaso fazem parte de um plano muito além do que a nossa inteligência pode absorver, ou seja, o plano do Criador; Deus.
 
 
 
 

 

 

Nota solta: Quem dita o que se lê em Angola? - Crónica de Gociante Patissa

 
Nota solta: Quem dita o que se lê em Angola? - Crónica de Gociante Patissa
 
Voltei ao mercado «Kero» do Lobito no dia 16/04/13 para um breve olhar sobre o sector do livro, mais concretamente na componente de escrita criativa. Meu interesse foi olhar para os preços de capa e principalmente saber quais são as principais chancelas editoriais. Recordo que, numa nota recente, referi-me ao preço convidativo em dois livros com edição portuguesa, sendo 390 Kwanzas o de crónica (autor português), e 890 Kwanzas o romance (autor latino-americano), ambos com mais de cem páginas.
 
A presente indagação foi motivada pelo que ouvi de vários agentes, escritores e editores em Luanda, que lamentavam a resistência da parte de quem gere livrarias e mercados quando o assunto é a consignação de livros editados em Angola. Porque será? Para escritores, como eu, com pouco menos de seis anos de afirmação, trata-se de um fenómeno complexo, e qualquer opinião arrisca-se ao apriorismo. Não podendo, por questões logísticas, visitar as livrarias e mercados na capital, que alegadamente secundarizam o material nacional, continuei a observação na província de Benguela.
 
A presente reflexão assume que a qualidade gráfica é equiparada, dado o avanço tecnológico de tipografias que operam em Angola, e ainda considerando haver editoras que recorrem ao Brasil e Europa. Então onde está o problema? Preços? Não parece ser de todo isso determinante, já que a moda é entre mil a quatro mil Kwanzas.
 
No «Kero», a Nzila é a única chancela nacional, que por sinal não é tão Angolana assim, depois que o sócio local vendeu as acções e o projecto se tornou apêndice do gigante grupo editorial português, Leya. Em uma hora a ler páginas de detalhes, constatei que o monopólio engloba as editoras Caminho, Casa das Letras, Texto Editores, ASA, Caderno e a Don Quixote. Minoria esmagadora recai para Estrela Polar e Porto Editora. No âmbito da Leya encontrei disponível um punhado de autores angolanos: Pepetela, Luandino Vieira, Luis Fernando, José E. Agualusa, e dois nomes que me escapam.
 
 
 
 

 

«As Camponesas» completaram em Março 29 Anos - Por José Francisco Colaço Guerreiro - Publicado em «Património»

 
«As Camponesas» completaram em Março 29 Anos - Por José Francisco Colaço Guerreiro - Publicado em «Património»
 
Quando fizeram o seu primeiro ensaio, dificilmente podíamos imaginar que o seu «atrevimento» lhes possibilitasse romper preconceitos antigos e a sua resistência, às adversidades do tempo e das falas, conseguisse abrir o espaço necessário para o sonho vingar.

Até então, o cante colectivo em feminino só tivera lugar no campo, no trabalho e nas lidas, onde lhes era permitido e naturalmente aceite, expressarem, ao lado dos homens, a sua sensibilidade e o seu apego cultural à moda. Quando acabaram os trabalhos agrícolas que podiam absorver numa só herdade muitas dezenas de assalariados, em mondas, nas ceifas, na apanha da azeitona e do grão, as mulheres remeteram-se à execução das tarefas caseiras, faltou-lhes lugar na produção, isolaram-se e perderam a oportunidade de continuar a cantar em coro. Pouco a pouco, da memória varreram-se as suas vozes e o seu silencio ganhou foros de costume. Durante tempos assim foi.

Hoje, passados que são já vinte e nove anos sobre o surgimento venturoso das «Camponesas» e habituados que estamos a ver vários outros coros femininos pontuando de palco em palco e cadenciando de desfile em desfile, não causa mais espanto, nem provoca engulhos ou resistência, aceitar de novo, como natural o canto das mulheres .

Foi assim reposta a verdade, a justiça e a normalidade no cantar da moda.

As «Camponesas» com a sua tenacidade , puseram de pé um projecto cultural que constitui uma dádiva , empenhada e aprofundada , de «Modas Alentejanas» que elas interpretam com uma devoção enorme, nascida da certeza de que assim estão a contribuir para que se avive a nossa memória colectiva e não se restrinja a nossa trajectória vocal ao «canto às vozes» em masculino , deixando-se à mercê do esquecimento uma grande parte da nossa riqueza cultural que também reside no imaginário e na arte das nossas mulheres.
 
 
 
 

 

Quem tem medo de Sylvia Plath? - Texto recolhido em As Leituras de Madame Bovary

 
Quem tem medo de Sylvia Plath? - Texto recolhido em As Leituras de Madame Bovary
 
Toda a gente sabe que mulheres que lêem são perigosas. E que mulheres que lêem e escrevem são fatais. Historicamente, as mulheres foram sempre mais vulneráveis à loucura pela identificação romanesca. Sylvia Plath, encontrada morta na sua casa, a 11 de Fevereiro de 1963, com a cabeça dentro do forno e o gás ligado, tornou-se o ícone pop da femme fatale que lê e escreve. Bonita, inteligente e perturbada, o seu nome foi usado para designar o célebre «efeito Plath», uma suposta propensão das poetisas para os distúrbios mentais. Devota das palavras certeiras, Sylvia consagrou a sua vida ao «grande striptease», confundindo literatura e vida. Em Lady Lazarus, escreveu sobre as suas tentativas de suicídio:
 
Soon, soon the flesh
 The grave cave ate will be
 At home on me
 And I a smiling woman.
 I am only thirty.
 And like the cat I have nine times to die.
 
O que quase ninguém sabe ou diz é que existem textos que matam. Textos que deixam as mãos, os olhos e os ouvidos ensanguentados. Palavras que incitam à revolta, ganas de sair pelas ruas gritando o que todos calam, que assim, meus senhores, não se pode viver.
 
E é preciso inventar uma outra vida que não estes dias chãos, dias de cão roendo os ossos e as vísceras. Inventar um amor novo, louco e forte, para derrotar o medo que corrompe as falanges. A vida inteira revisitada e não se encontra recordação que sirva de mastro, farol ou almofada. Tudo tão violento para depois se morrer no fim. Textos assassinos cujas palavras, dispostas numa determinada sequência, nos amarrotam o peito com uma mão negra e tornam a morte certa e inevitável.
 
Suspeitei desde cedo que as palavras não são tão inofensivas como a presente cultura da imagem pretende fazer esquecer e que tudo pode ser textualmente produzido, desde o amor à morte. Ou: sobretudo o amor e a morte. E foi nas palavras de Sylvia Plath no poema Three Women que encontrei a minha primeira grande máquina de morte escrita, numa encenação teatral da qual saí lívida e assustada.
 
 
 
 

 

O dono do «Bazar do Waldomiro» e a duplinha sertaneja iniciante... - Por Se Gyn

 
O dono do «Bazar do Waldomiro» e a duplinha sertaneja iniciante... - Por Se Gyn
 
Lugar comum é dizer que Waldomiro Bariani Ortêncio, paulista de nascimento e, goiano por afetividade, é hoje uma das sumidades intelectuais do estado de Goiás. Em sua interessante biografia, encontram-se a adolescência no setor de campinas (onde o pai se estabeleceu e, tinha uma serraria), a passagem pelo time do Atlético Esporte Clube, a carreira de empresário, que começou com uma loja que acabou virando uma cadeia de loja de discos - o famoso Bazar Paulistinha - espalhada, por Goiânia e, Brasília, a experiência de radialista na Rádio Clube de Goiânia, a experiência como compositor e, depois, a consagração como uma figura proeminente, dedicada à literatura, como escritor, filólogo, e pesquisador.
 
A importância dele no mercado regional de gravações, pode ser medida pela sua citação, em gravações de músicas do homem do campo. Conheço pelo menos duas músicas sertanejas que fazem referência à sua figura: «Pagode em Brasília», cantada pela dupla Tião Carreiro e Pardinho - e, talvez uma das peças mais famosas e, divulgadas de seu repertório e, «Saudades de Goiás», cantadas pela dupla Belmonte e Amaraí.
 
 Na primeira, da autoria de Teddy Vieira e Lourival dos Santos, os versos de referência são estes: «No estado de Goiás meu pagode está mandando / O bazar do Vardomiro em Brasília é o soberano / No repique da viola balancei o chão goiano / Vou fazer a retirada e despedir dos paulistano / Adeus que eu já vou me embora que Goiás tá me chamando.», referência explícita à pioneira abertura de uma filial do «Bazar Paulistina» na capital federal.
 
Na outra referência, dizem as duas primeiras estrofes da belíssima canção composta por Goiá e Zilo: «Goiás é saudade em tudo que falo / As vezes me calo por essa razão / Mas o Valdomiro Bariani Ortêncio / Rompeu o silêncio do meu coração / Porque em seu livro «Sertão Sem Fim» / Mandou para mim recordação. Em seus personagens eu vi os goianos / Que há quase dez anos não posso mais ver / A grande saudade bateu em meu peito / Não tive outro jeito se não escrever / Humilde mensagem á terra querida / Que nunca na vida irei esquecer.»
 
 
 
 
 

 

sábado, 27 de abril de 2013

A Lenda da Senhora Matilde e da «San Líjà Bote» - Por João Furtado

 
A Lenda da Senhora Matilde e da «San Líjà Bote» - Por João Furtado
 
Vestida imaculadamente de branco, a senhora Matilde, sim era este o nome da velha que diariamente sentava-se a berma do rio Papagaio.

Usava saias longas e de pregas e uma blusa de mangas folhadas. Esperava alguém, alguém que deveria voltar e nunca mais voltaria. Aquela zona era denominada de «San Lijà Bote», em português, senhora Luísa Bote.
Que esperava a senhora Matilde? Alias quem esperava ela? O João diariamente passava por ela e tornava a passar. Passava para ir a escola e passava de novo quando voltava para a casa. A senhora Matilde lá estava.
Ia bem cedinho e só regressava a noite. Há anos que ela passava o dia sentada. Alimentava de cola e agua. Graças a Deus a cola era uma semente milagrosa. Bastava uma semente para não se sentir a fome durante longo período do dia e era fácil de se conseguir.

O fazia ela sentada ali e quem esperava ela?
 A agua cristalina e transparente descia rio abaixo até o mar alheio a tudo e a todos e a Senhora Matilde, alheia a tudo que passava a sua volta fixava os olhos no rio e via a agua correr na sua trajectória milenar, enquanto respondia a todos que por ela passassem o «Passô» com outro «passô».

Ninguém mais se importava com ela. O hábito de ficar sentada a beira do rio já se havia transformado em normal, natural.
 
Um tão estranho hábito tornou-se habitual e quando o estranho se transforma em normal, ninguém mais liga. A Senhora Matilde já tinha se tornado em parte integrante do ambiente.
 
Um dia ela não pode ir, ela tinha apanhado uma ligeira gripe, ai sim todos acharam anormal e correram para a casa dela, para saberem o que havia acontecido com ela.

O João sabia o caminho que devia seguir de cor e salteado. Nunca deveria encurta-la. Devia ir tomar sempre a ponte e atravessar o rio, seja porque razão ou motivo for.
 
 
 
 

 

As Maias em Lagos (Algarve) - Fonte do texto e imagens - Fototeca Municipal de Lagos

 
As Maias em Lagos (Algarve) - Fonte do texto e imagens - Fototeca Municipal de Lagos
 
A origem da tradição das Maias perde-se no tempo. Segundo alguns, a Maia era uma boneca de palha de centeio, em torno do qual se dançava durante toda a noite do primeiro dia de Maio. Ritual ligado aos ritos da fertilidade, do início da Primavera e do novo ano agrícola, José Leite de Vasconcelos refere o costume português das Maias como a mais antiga manifestação desta florida festa naturalística.
 
Com o advento do Cristianismo atribuiu-se a este velho ritual pagão um carácter religioso. A lenda alusiva a esta tradição, que com mais frequência se ouve, reza assim:
 
Herodes soube que a Sagrada Família, na sua fuga para o Egipto, pernoitaria numa certa aldeia. Para garantir que conseguiria eliminar o Menino, Herodes dispunha-se a mandar matar todas as crianças. Perante a possibilidade de um tão significativo morticínio, foi informado, por um outro «Judas», que tal poderia ser evitado, bastando para isso, que ele próprio colocasse um ramo de giesta florida na casa onde se encontrava a Sagrada Família, constituindo um sinal para que os soldados a procurassem e consumassem o crime...
 
A proposta foi aceite e Herodes tratou de mandar os seus soldados à procura da tal casa. Qual não foi o espanto dos soldados quando, na manhã seguinte, encontraram todas as casas da aldeia com ramos de giesta florida à porta, gorando-se, assim, a possibilidade do Menino Jesus ser morto. Daí terá vindo essa tradição de colocar ramos e giestas nas portas e janelas das casas, na véspera do 1º de Maio.
 
 
 
 

 

25 DE ABRIL 1974 - 2013 - LIBERDADE OU PODER ? - Texto recolhido em «Filhos de um Deus Menor»

 
25 DE ABRIL 1974 - 2013 - LIBERDADE OU PODER ? - Texto recolhido em «Filhos de um Deus Menor»

Os portugueses teriam alcançado a liberdade com a revolução de Abril de 1974?

Quando algumas figuras da politica portuguesa se assumem como «Presidente de todos os portugueses» designadamente através de actos eleitorais confundem a liberdade com a participação no poder político.

Tal confusão assenta ainda na ideia rousseauniano de vontade geral. Para tais políticos, quando eleitos, a vontade da maioria passa a ser a vontade de todos. Para eles as minorias estavam equivocadas , ao emitirem o seu voto. A verdade é que esse entendimento rousseauniano não faz sentido numa sociedade democrática.
A posição das minorias tem que ser, na pratica, respeitada como tal. Mesmo que se aceitasse a construção de ROUSSEAU, confundir a participação no poder político com a liberdade reduziria esta ao sector público, e a um plano intermitente - já MONTESQUIEU, em pleno século XVIII, se apercebeu de que, não havendo palavra à qual se atribuíssem tão diversos significados como a «liberdade», se confundiria poder do povo com liberdade do povo.
Os homens seriam livres apenas de quando em vez, e momentaneamente, ao exercerem o seu direito de voto. Também os que não gozam de tal direito - menores, estrangeiros, etc - seriam destituídos de toda e qualquer liberdade. Ora esta constitui um elemento permanente da personalidade de qualquer homem.
 Em suma, o problema da liberdade humana não encontra solução mínima satisfatória num plano alheio às concepções integrais de vida dos homens e dos grupos sociais. Não é possível definir os limites da liberdade senão no respeito dessas concepções. E estas, ou serão as dos detentores do poder, que hão-de reflecti-las no direito legislado, ou têm de corresponder a verdades reveladas, ou aos usos e sentimentos das comunidades, frequentemente também inspiradas nas revelações.
 
 
 
 

 
 

Revolução e harmonia - Texto de Leocardo - Blogue Bairro do Oriente - Macau - China

 
Revolução e harmonia - Texto de Leocardo - Blogue Bairro do Oriente - Macau - China
 
I

Comemora-se hoje mais um aniversário da Revolução dos Cravos, que exactamente há 39 anos neste dia derrubou a ditadura do Estado Novo em Portugal e instituiu uma democracia parlamentar e multi-partidária, aboliu a censura, libertou os presos políticos e de delito de opinião, e eventualmente pôs fim à Guerra do Ultramar, trazendo de volta a casa os nossos soldados.
 
E é uma feliz coincidência que hoje, dia 25 de Abril, tenha a oportunidade de escrever neste espaço. Mais do que isso: é uma honra. Há cada vez mais pessoas ressentidas com o 25 de Abril e as suas conquistas, e faz-se muita confusão entre a Revolução dos Cravos e os cravos da pós-revolução.
Verdade que foram cometidos alguns excessos no período que se seguiu ao derrube do regime de Marcelo Caetano, nomeadamente durante o PREC, uma nódoa na nossa História mais recente.
 
No que a revoluções diz respeito, Portugal não detém o exclusivo dos problemas que surgem no contexto de uma nova realidade. Os exemplos sucedem-se, mesmo nos dias de hoje. Foram quase 50 anos na penumbra, na sombra do autoritarismo musculado, e é normal que apareçam obstáculos, problemas novos e opiniões divergentes.
 
Ao fim de um pesadelo nem sempre se segue um sonho lindo, é preciso repensar, reconstruir, reorganizar, e sobretudo encontrar o rumo certo, o que muitas vezes se afigura uma tarefa complicada. As políticas fracassadas e as decisões infelizes que se seguiram à revolução não invalidam as conquistas obtidas neste dia que se comemora.
 
De todas a mais importante foi a liberdade, que uma vez alcançada pode ser usada para o bem ou para o mal. Depende apenas de nós usá-la com siso, aproveitá-la e tratar bem dela, para que não a voltemos a perder. Por mais descontentes que estejamos com a actual situação, nada substitui a liberdade, e nada justifica o regresso ao passado, ao 24 de Abril.
 
Lamentável é que tanta gente jovem suspire agora por Salazar e pelos nepotes do Estado Novo, mesmo sem conhecimento de causa. Se é apenas como protesto pela actual austeridade é um erro: é como receitar a alguém com uma enxaqueca que lhe cortem a cabeça.
 
 
 
 
 

 

Matéria e antimatéria no Universo - Texto enviado por Dulce Rodrigues

 
Matéria e antimatéria no Universo - Texto enviado por Dulce Rodrigues 
 
A experiência LHCb no laboratório do CERN, em Genebra, observou pela primeira vez uma assimetria entre a matéria e a antimatéria quando da desintegração de uma partícula conhecida como Bs. Esta assimetria só se tinha manifestado até agora em três outras partículas subatómicas, e este facto é importante para se compreender a ausência de antimatéria no Universo.

O Universo é hoje constituído principalmente por matéria, mas os cientistas pensam que a matéria e a antimatéria teriam existido em quantidades iguais quando da criação do Universo (Big Bang). O desaparecimento de antimatéria pressupõe uma diferença de comportamento entre a matéria e a antimatéria, e a experiência LHCb procura explicar estas diferenças de comportamento. Os resultados obtidos recentemente permitiram a descoberta de uma assimetria entre a matéria e a antimatéria, conhecida como violação de carga - paridade (CP), quando da desintegração da partícula neutra Bs.

A experiência do Grande Colisionador de Hadrões (LHC) sobre o quark bottom (LHCb, em que «b» se refere ao quark bottom) destina-se a encontrar pequenas diferenças entre a matéria e a antimatéria nas partículas produzidas em grandes quantidades no colisionador LHC do CERN, em Genebra.
 
Existem quatro mesões neutros - K0, D0, B0 e Bs – e a violação CP já está bem documentada em dois deles : a primeira foi observada pela primeira vez em 1964 nos mesões K (K0), uma descoberta que mereceu o Prémio Nobel em 1980 ; a outra descoberta de violação CP foi observada numa outra partícula, o mesão B0, o que veio confirmar a descrição teórica do fenómeno e deu lugar ao Prémio Nobel de 2008. Em Março de 2012, a experiência LHCb observou que os mesões B+ apresentavam também violações de CP.
 
 
 
 


 

Poesia de Cremilde Vieira da Cruz - DESAFIO EM ABRIL por Cremilde Vieira da Cruz

 
Poesia de Cremilde Vieira da Cruz - DESAFIO EM ABRIL por Cremilde Vieira da Cruz
  
DESAFIO EM ABRIL
 
Não colhas um fruto qualquer,
 Só porque o achas bonito.
 Não bebas água do pântano,
 Só porque os nenúfares cresceram lá.
 Não acordes infeliz,
 Só porque um sonho mau te fez entristecer.
 Mas se tiveres sonhos belos,
 Não te convenças de que tudo acontecerá assim!
 
Segue o caminho do meio.
 Não te abeires do precipício,
 Porque podes cair.
 Não te encostes demasiado à montanha,
 Porque uma rocha pode cair-te em cima.
 Se passares ao lado duma nascente
 De água pura e cristalina,
 Não deixes de te refrescar.
 Se por acaso te deparares
 Com um charco de água lamacenta,
 Desvia-te o mais que puderes.
 Em qualquer situação,
 Não te precipites,
 Medita antes de agires,
 
 
 
 

 

Poesia de Xavier Zarco e Manuel Lopes - SALGUEIRO MAIA por Xavier Zarco e Oh! Doce LIBERDADE de Manuel Lopes

 
Poesia de  Xavier Zarco e Manuel Lopes - SALGUEIRO MAIA por Xavier Zarco  e Oh! Doce LIBERDADE de Manuel Lopes
 
 SALGUEIRO MAIA
 Xavier Zarco
 
 trazia os mapas da vontade
 de um ir e cumprir
 fazer do sonho um corpo imenso
 que rompe a mordaça
 do silêncio
 e liberta a voz de um povo
 inteiro
 
Oh! Doce LIBERDADE
 Manuel Lopes
 
 Oh! Doce LIBERDADE
 Âmago da minha exaltação
 Palavra da infinidade
 Que libertas o meu coração...
 
Em cada sopro de aurora
 Na água do mar e nos barcos
 Na serrania demente
 Escrevo o teu nome...
 
 Na clara espuma das nuvens
 Nos suores da tempestade
 Na chuva insípida e espessa
 Escrevo o teu nome...
 
 
 
 

 
 

Poesia do 25 de Abril de Francis Raposo Ferreira - Homens da Liberdade; Liberdade que tanto amo; «25 de Abril» ; Ai Portugal, Portugal; Futuro ; Viva Salgueiro Maia


Poesia do 25 de Abril de Francis Raposo Ferreira - Homens da Liberdade; Liberdade que tanto amo; «25 de Abril» ; Ai Portugal, Portugal; Futuro ; Viva Salgueiro Maia
 
 
Homens da Liberdade
 
A India teve Mahatma Gandhi,
 Africa do sul, Nelson Mandela,
 Como idealistas da liberdade,
 Che Guevara morreu por ela.

 
Nasceram muitos outros mais
 Neste cantinho que é Portugal,
Zeca Afonso, Francisco Fanhais,
 Salgueiro Maia, Alvaro Cunhal.


Liberdade que tanto amo

 
 Precariamente eu te vivi,
 Liberdade que tanto amo,
 Recordo o dia que te perdi,
 Por ti, constantemente, clamo.

 
Agora não sei o que fazer,
 Nem sequer sei que pensar,
 Tão pouco o que dizer,

 
«25 de Abril»
 
Portugal precisa ser reinventado
 Neste momento da sua história
 Quem sabe até ser revolucionado
 Num novo movimento de glória.

 
Portugal precisa ser defendido
 Neste momento de dificuldade,
 Quem sabe até ser acometido
 De um novo grito de liberdade.

 
Futuro
 
 O futuro de Portugal
 Está nas terras abandonadas,
 Pois o País está mal
 E elas não são cultivadas.

 
São hectares e mais hectares
 Votados ao abandono,
 Portugal, porque não obrigares
 A que as trabalhem o dono.

 
 Desmantelaste os estaleiros,
 Fechaste grandes empresas,
 Preferiste receber dinheiros
 E vender as marcas Portuguesas.

 
 
Leia este tema completo a partir de 29 de Abril carregando aqui.
 
 
 

 
 
POESIA DE AMALIA FAUSTINO MENDES - Uma liberdade por ano?
 
 
 Uma liberdade por ano?
 
 Cada ano que chega, um toque,
 Uma nota, um dó e ré diferentes,
 Tendo em comum «viva» e porque,
 Todos a querem e dela são carentes.

 
E «viva» a liberdade, viva a safra,
 E assim, escrevendo a palavra
 Que assim se lê e não se vive
 Na plenitude do que se revive.

 
 A liberdade conquistada era
 Para ser vivida em toda a era
 Por todos, na sua total extensão,
 Não só para conter a expansão.

 
 Sendo a liberdade conquistável,
 Ser livre é ser afável, mas estável
 Agradável sem ser exagerado,
 Com ou sem reflexo condicionado.

 
 Leia este tema completo a partir de 29 de Abril carregando aqui.
 
 

 
 

Crónica da Arlete Piedade - Foi em Abril - Por Arlete Piedade

 
Crónica da Arlete Piedade - Foi em Abril - Por Arlete Piedade
 
Mais um mês de Abril, que já vai adiantado, mais um ano astrológico, em pleno signo de Carneiro, que dizem ser o iniciador do Zodíaco, aquele com que acontecem as coisas, cheio de iniciativas e impulsos, ligado á terra, e aos projectos pioneiros.

Não vou escrever sobre astrologia, embora seja uma matéria fascinante, mas sim sobre o significado deste mês, onde vários acontecimentos ao longo da minha vida, que tiveram lugar em Abril, me têm mostrado que realmente neste mês, há vários começos ou recomeços, na vida, pelo menos na minha isso tem acontecido e marcado o mês de Abril, com várias recordações, todas elas boas.

Falarei de algumas, outras serão mais privadas, mas igualmente significativas. Antes de falar de acontecimentos pessoais, não poderei deixar de referir o 25 de Abril de 1974, dia da Revolução dos Cravos, o primeiro Dia da Liberdade, em que da minha cidade de Santarém, partiram as colunas militares, comandadas por Salgueiro Maia, em direção a Lisboa, para restituírem a liberdade ao povo português.
 
Eu era uma jovem nessa altura, mas já trabalhava desde Abril do ano anterior, numa seguradora onde desenvolvi a minha actividade profissional nos vinte e dois anos seguintes. Comecei a trabalhar precisamente no dia 2 de Abril de 1973, aos 17 anos, na idade em que agora os jovens ainda andam ás voltas com o ensino secundário e a pensar qual o curso superior que querem fazer.

Ora precisamente em 7 Abril de 1974, na primeira semana desse mês marcante na vida de todos nós, conheci num baile de aldeia, aquele que viria a ser meu namorado e depois marido, um marinheiro alentejano, que durante umas férias da comissão que prestava em Angola, se deslocou a uma aldeia vizinha da minha, acompanhando um grupo de colegas.
 
 
 
 

 
 

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Poemas de Liliana Josué - Fado - Florir de Esperanças - País em Colapso

 
Poemas de Liliana Josué - Fado - Florir de Esperanças - País em Colapso
 
Fado
 
Há fome
 Há medo
 Há sujidade!

A grande fadista canta a saudade
 de qualquer coisa que não percebo
 nem me interessa.
 Com ela a esperança some
 num arremedo de solidão.
 O fado português em mim recebo
 com enfado.
 Suga-me a cor do rosto
 e a alegria dos olhos.
 Não tenho culpa…
 não quero ter culpa!
 Rejeito o desagrado causticante
 deste fado
 assim tão português!
 
Florir de Esperanças
 
 Canto doce
 na floresta dos meus abraços
 melodia fértil de entrega
 como se fosse afago de astro
 ou laços de cúpidos
da cor que alegra
 os meus sentidos.
 Esse cântico é o eco dos teus sonhos
 em penumbras de esperança
 maduros de esperar.
 E nos meus ramos de lembrança
 faço florir
 
País em Colapso
 
 Chuvas de fome
 Ventos de sede
 Raios de frio…

Alguém te come, meu país
 como antropófago
 ou
 vampiro saído dum sarcófago.
 Meu rio de lágrimas de sangue
 meus chafariz de prantos
 minha terra exangue de sofrimento.
 Es a pérola entre as pérolas
 a flor das flores
 o astro principal do Firmamento.
 Mas a perversidade mórbida dos teus senhores
 feriu-te de morte!
 
 
 
 

 

 

Texto de Arlete Deretti Fernandes - Inesquecível Nicki

 
Texto de Arlete Deretti Fernandes - Inesquecível Nicki
 
Ganhei-o de presente de uma amiga. Ele era lindo. Filhote de gata persa de cor amarelada, que quebrou as regras da nobreza e acasalou-se com um gato «plebeu».
 
Ao levá-lo para minha casa, tive que fazer todo um trabalho psicológico, pois tínhamos dois cachorrinhos e receávamos que pudessem maltratá-lo. Soltei-o e ficamos alertas a observá-los com todo cuidado. Incrível foi a amizade que fizeram. Brincavam muito, corriam pela casa e se rolavam, uma graça, uma distração.
 
O gatinho era peludo, da cor de Garfield. Quanto à escolha do nome, como tinha uma cor loira e era semi-nobre, pensei em chamá-lo de Brad Pitt, mas não gostei, porquê ficaria muito extenso. Até que cheguei a uma escolha que me agradou, seria Nicki.
 
No bairro onde residíamos na época, costumavam aparecer gatos mortos. Saíam a passear e acabavam comendo veneno em algum lugar.
 
Uma amiga que tinha uma clínica veterinária, aconselhou-me a castrá-lo, para que se tornasse caseiro e sossegado. Pensei, analisei, e pelo bem do próprio Nicki, resolvi acatar a ideia.
 
Quando o trouxe da clínica para casa, ele ainda estava grogue da anestesia. Olhei-o e percorreu-me internamente uma «peninha». Fiquei a pensar se eu tinha o direito de intervir desta forma na natureza. Mas, enfim, já estava feito, e como «os fins justificam os meios»...
 
 
 
 

 
 

Poesia de João Furtado - NA DOR DA AUSENCIA; Eu e o meu pardal novamente!

 
Poesia de João Furtado - NA DOR DA AUSENCIA; Eu e o meu pardal novamente!
  
 NA DOR DA AUSENCIA
 
 Um casal de pardais barulhentos
 Diariamente vêm bem cedinho
(Construíram naquele buraco o ninho)
 Chorar para mim os seus lamentos!
 
Não sei se são deveras prantos
 Ou se são de alegrias seus cantos
 Eu é que perto da janela, no meu canto
 Perdido estou, cheio de tristes pensamentos
 
Eu e o meu pardal novamente!
 
 Eu te vejo muito tristonho
 Meu belo pardal confidente e amigo
 Tão calado estas tu que sempre falaste comigo
 Tu que sempre entraste até no meu sonho...
 
Estou muito triste amigo João
 Venho do Cabo das Esperanças
 E na bagagem trago poucas esperanças
 As baleias são mortas que dói o coração...
 
E na terra a vida dos pacíficos elefantes
 Não está nada fácil, dizem que é o fim
 Todo por motivo apenas dos dentes de marfim
 O mundo esta a perder os últimos gigantes
 
 
 

 
 

COLUNA DE MARIA PETRONILHO - A estória da Donzela e do Sapo ... eu vi! - Crónica / Conto

 
COLUNA DE MARIA PETRONILHO - A estória da Donzela e do Sapo ... eu vi! -  Crónica / Conto
 
Kátia Alexandra Sofia da Silva retirou sem sombra de pejo aparte de cima do seu biquini e esparramou-se na relva, de modo a ser atingida pelos respingos, já que era tarde tardezinha e o Manel Jaquim jardineiro, regava o toro de uma ameixoeira, que o empresário da construção civil, Silva pai, não era de desperdiçar terreno nem despesas com coisas que não dessem fruta ou, ao menos, hortaliças.
 
O Caldo verde da D. Birgolina tinha fama, feito com as tenras couves que adornavam as alamedas.
 
Boné para a nuca, testa meio calva meio grisalha reflectindo o fulgor do sol que declinava, o Manel Jaquim, declinando dos ossos e de outras miudezas de que a gente não fala, nem olhou para a moça, que se virava e revirava na toalha turca dum lado e aveludada do outro.
 
Olhava enfastiada os restos da revista Caretas, que folheava, molhando a ponta do dedo mindinho na ponta da língua, ficando as páginas coladas com uma mistura de saliva e cola... nada a fazer senão mirá-las, remirá-las, e arrancá-las, lançando-as por cima do ombro, que a brisa se encarregava de levá-las a passeio para onde não a incomodassem.
 
Aproveitavam a frescura da água do tanque a que chamavam Piscina, quando se reuniam lá em casa as Tias.
...Modelos, príncipes, artistas... caiam na placidez das águas e vogavam deliciados, habituados que estão a frescuras.
 
Ela, Kátia Alexandra Sofia, à água... só vê-la!
Ou senti-la morninha, debaixo do chuveiro de uma das três casas de banho da moradia recoberta de azulejos.
 Os banhos de sol junto da Piscina eram pretexto para se apresentar bronzeada nas festas, dizendo que acabara de chegar de férias nas Caraíbas.
 
 
 
 

 

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Os últimos governadores do império - Texto Publicado por João Botas - Blogue Macau Antigo

 
Os últimos governadores do império - Texto Publicado por João Botas -  Blogue Macau Antigo
 
Este livro com coordenação de Paradela de Abreu e colaboração dos jornalistas Händel de Oliveira, Rui Nunes e J. Villas Monteiro foi editado em 1994. No que a Macau diz respeito, a referência vai para Lopes dos Santos, governador entre 1962 e 1966, «único governador ainda vivo do período anterior ao 25 de Abril.» Lopes dos Santos (1919-2009) passou ainda por Cabo Verde de onde saiu já em 1974 sendo o último governador daquele território.
 
Nesta edição «juntaram-se» os depoimentos na primeira pessoa dos «últimos governadores do império» ainda vivos na época. Eram 15 no total. Lopes do Santos (1919-2009), governador de Macau entre 1962 e 1966 foi um deles mas a sua «estreia» no Território aconteceu antes, em finais de 1955, quando foi nomeado para desempenhar as funções de Chefe de Estado-Maior da Guarnição Militar de Macau, cargo que manteve até Abril de 1958. Era governador o comandante Correia de Barros.
 
Lopes dos Santos será convidado para governador de Macau em Outubro de 1961 por Adriano Moreira, ministro do Ultramar. Silvério Marques saíra da curta estadia no cargo por motivos de saúde.
Não é objectivo deste post analisar o seu mandato - 17 Abril 1962 a 25 Novembro 1966 - (fica para uma próxima oportunidade) pelo que limito-me a referir a título de exemplo algumas das palavras - chaves que o ajudam a caracterizar: planos de fomento, estudos localização aeroporto Ponte da Cabrita, primeiros estudos da ponte Macau -Taipa, refugiados, planos urbanização, contrato concessão de jogo, etc...
 
 
 
 
 

 

Maria Alice... - Conto de Irene Fernandes Abreu - Blogue Valium50 - Macau - China

 
Maria Alice... - Conto de Irene Fernandes Abreu - Blogue Valium50 - Macau - China
 
Eu lembro-me bem dela, a minha vizinha Maria Alice, filha da ti Júlia, que tinha uma lojinha de venda de jornais, ao fim da minha rua.
Ela faz parte das minhas boas memórias, brincávamos desde os cinco anos até à minha adolescência, depois casei, fui morar para outra cidade. Deixei de a ver, mas fui sabendo noticias dela, sempre que visitava a minha mãe.
 
A Alice tinha uma beleza serena e a alegria contagiante de alguém que é feliz e com um futuro promissor. Chegou a entrar na universidade! As últimas novidades, eram com ela, desde a moda, aos namorados, era por isso, a mais popular entre nós.
 
Um dia numa festa de amigos, teria ela uns vinte e poucos anos, quando provou pela primeira vez um «cigarrinho de erva», dado pelo namorado de então, dizendo-lhe que era nice, que estava na moda e que toda a gente experimentava. Então ela pensou: - «Porque não? Que mal há nisso?»
 
Depois… voltou a fumar no dia seguinte, num outro dia, e nos que vieram depois. Nunca mais os largou! Dizia que não era vício, que em qualquer altura deixava de fumar. Atrás do cigarrinho «especial», vieram outras experimentações, mais ousadas e mais fortes…
 
Os anos passaram, muitas coisas foram acontecendo, desde perder o emprego, à morte dos pais, ela deixou a alegria esquecida, lá no fundo da alma.
Reduziu-se a si própria e ao pó que consumia.
Entrou em casas de desintoxicação, pagas por uns tios, que tentaram ajudá-la.
Reaprendeu a viver e voltava sempre a desaprender. Uma vez e outra!
 
 
 
 

 
 

domingo, 21 de abril de 2013

Jornal Raizonline nº 219 de 22 de Abril de 2013 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XL)- O coelhinho da Alice

 
Jornal Raizonline nº 219 de 22 de Abril de 2013 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XL)- O coelhinho da Alice
 


Na Alice no País das Maravilhas todos se lembram de pelo menos três personagens de uma forma mais detalhada: a própria Alice, a Rainha corta - cabeças e o Coelho, sempre aflito para cumprir um horário. Já li este livro há muitos anos e embora as referências ao mesmo sejam bastantes quase no dia a dia, vou aceitar que aquilo de que me lembro corresponde ao que está escrito e, se assim não for, isso não altera nada àquilo que vou dizer e tentar desenvolver à minha maneira.

Na minha ideia o coelho tem «apenas» de cumprir um horário, qual ponteiro de um relógio, quer dizer não existe nada que o obrigue a estar à hora x no local z que o leve a apressar-se. O que o apressa é a necessidade de cumprir aquela missão que é a de estar a horas na hora e no minuto certo.

Ou seja, será uma pressa sem objectivo senão aquele que advém da sua função de dar horas (à hora certa). Pode não ser assim mas é assim que eu vejo a situação tal como ela se passa no romance da Alice.

O problema maior do coelho, neste caso, é que ele tem «consciência» de que tem de estar num dado ponto do seu relógio mental o que não acontece com um ponteiro mecânico ou mesmo com os números dos nossos mais modernos relógios. Para estes, em teoria, e se eles tivessem consciência, bastar-lhes-ia serem como são e se erro houvesse a culpa nunca seria deles mas sim de quem os fabricou, ou mesmo de quem os utiliza por o terem de alguma forma danificado. Certo, certo, é que se não fosse um destes casos (ou outros que possam vir-nos à memória) tudo batia naquela certeza que lhes estava destinada.

O problema do tempo dentro do tempo, quer dizer o tempo do relógio dentro do Universo tempo, é muitas vezes assemelhado tanto para um lado como para outro. Nalguns casos sabemos que o nosso tempo (calendário) é uma ficção mas levamo-lo muito a sério ao mesmo tempo que o outro tempo (o tal Universal) acaba por vir mentalmente a ficar contido dentro do nosso ficcionado tempo (calendarizado).