domingo, 9 de junho de 2013

SOBRE O DIA DE PORTUGAL, DE CAMOES E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS - Camões por Camilo Pessanha em Junho de 1924

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SOBRE O DIA DE PORTUGAL, DE CAMOES E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS - Camões por Camilo Pessanha em Junho de 1924
 
- Texto Recolhido em Macau Antigo - João Botas   Artigo de Junho de 1924 publicado na revista Contemporânea (5ª - série-nº3) em Julho/Outubro de 1926.
 
«Dos templos profanos portugueses dedicados ao culto da Pátria e ao culto do génio é sem dúvida um dos mais venerados o modesto jardim de Macau, chamado a Gruta de Camões.
 
Nenhum português absolutamente, nenhum estrangeiro de mediana instrução vem a Macau, mesmo de passagem, cujo primeiro cuidado não seja o de irem em romagem a esse recinto sobre cujo solo é tradição que poisaram os pés do poeta máximo de Portugal – um dos máximos poetas de todo o mundo e de todos os tempos –, enquanto o seu génio elaborava algumas das estrofes de bronze dos Lusíadas.  
 
E a nenhuma deixa de invadir, apenas transporte o vulgaríssimo portal de quintalejo suburbano, que dá acesso ao local, um sentimento dominador de religiosidade, a todos impondo silêncio, como se do lado de dentro das duas insignificantes umbreiras de granito estivesse aquela tela que existiu à entrada da cartuxa do Bussaco, onde a pintura de um frade fitava imperativa, com o seu olhar imóvel, os que se aproximavam, erguendo verticalmente diante da boca o indicador da mão direita.
 
Tem-se debatido desde há anos a questão de se Camões residiu ou não em Macau, se esteve ou não preso no tronco da cidade, se aqui desempenhou ou pôde ter desempenhado as apagadas funções de provedor dos defuntos e ausentes. A polémica há-de decerto renascer mais animada algum dia; e provável é que o problema venha a decidir-se finalmente pela negativa.  
 
E é a sorte de todas as tradições consagradas. A crítica histórica, a história - ciência, positiva e experimental, vem fazendo tábua rasa de quando é anedótico e pessoal, das atitudes esculturais, dos gestos dramáticos, das frases eloquentemente concisas, em que tradições lentamente evoluídas, haviam definido, em termos quási sempre de inexcedível beleza, um carácter, um acontecimento ou uma época.
 
 
 

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