sábado, 8 de junho de 2013

Outros tempos…o dos avós! - Texto de Lina Vedes


Outros tempos…o dos avós! - Texto de Lina Vedes  
 
Arminda da Silva Pinto nasceu em Vilar, freguesia de Castanheira de Pêra, Pedrógão Grande, em 1884 e faleceu em Faro a 15/02/1959.  Era filha de um proprietário da região.
Casou no Coelhal, na igreja matriz, em 1906 e teve três filhos nascidos em casa, 2 rapazes e 1 rapariga: Alfredo, Manuel e Nascisa.  Veio morar para Faro em 1918.
 
Educada para servir os outros, com todos os valores inerentes a essa missão, sabia, na íntegra, tratar da arrumação e limpeza da casa, cozinhar, fazer e cuidar da roupa, bordar e economizar o máximo. Além destas características, há a acrescentar a submissão natural, sem revolta, sabendo aceitar, humildemente, as exigências do marido – o seu dono.
 
Nunca praguejou, nunca esteve a uma janela olhando a rua, nunca usou roupas ousadas (a cava de um vestido fazia parte dessa ousadia) … nunca foi a um médico mostrar-se, e bem doente esteve, pois o marido era homem de muitas experiências extra conjugais, e contagiava-a com doenças venéreas. Tratava-se com mesinhas caseiras, utilizando água das malvas.
 
A par de todas estas particularidades, sofreu na vida outros desgostos.  O marido era déspota, patrão de tudo e de todos, com exigências sem contrapartidas. Exigia obediência total da mulher, dos filhos, chegando a castigá-los severa e impiedosamente. Na lei dele (conduta usual dessa época), filhos do sexo masculino, rua aos 15 anos – não existia compaixão.
 
Arminda sofreu ainda a morte do filho mais velho e da mulher dele, tendo de ficar com a neta. Pouco mais tarde morre a única filha e a neta, todos com tuberculose, entre 1936 e 1944.
 
Canalizou e acalmou a dor voltando-se para a casa, onde tinha um jardim com flores lindas, em centenas de vasos.  Sempre fez tudo pelo lar e pelos outros e nunca teve um tostão, nem viu o seu esforço reconhecido.
 
Tentou transmitir aos netos a docilidade, a paciência, a resignação. Nunca impôs, nunca governou…nem a si própria. Toda a vida chorou, ocultando o seu sofrimento, não fosse incomodar ou provocar a incompreensão, principalmente, a do marido.
 
Lembro-me bem dela, morando na R. Frederico Lécor; casa enorme, com um grande quintal, tanque para a rega, muitas árvores de fruto e sobretudo flores, muitos vasos com flores… Ia, algumas vezes, passar semanas a casa de Arminda, embora morasse também em Faro com os meus pais.
 
 
 

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