sábado, 29 de junho de 2013

A tristeza do crime da existência - CAMILLE CLAUDEL, 1915


A tristeza do crime da existência - CAMILLE CLAUDEL, 1915
 
Quem conhece a obra do cineasta Bruno Dumont sabe que o seu cinema é sinónimo de um mundo cru, repleto de paisagens inóspitas, com a violência e o sexo a roçar o gratuito e os silêncios a apoderarem-se de forma abrupta da tela.
 
Estes singulares predicados, que reflectem a forma como o realizador francês se movimenta na sétima arte, levantavam grandes dúvidas sobre este «Camille Claudel, 1915».   Toda a tragédia que vitima Camile Claudel era, à partida, o maior desafio que Dumond iria enfrentar. A escultora que teve uma ligação sentimental com Auguste Rodin e que, dizem alguns, pode ter sido essa a razão para que a sua mente ultrapassasse a fronteira da sanidade, passou as últimas décadas da sua existência num hospício onde enfrentou terríveis abstinências provocadas pelos danos colaterais de uma vida marcada por uma perda da condição humana e anulação pessoal. (Camille Claudel na foto abaixo)
 
Mas eis que ao conhecer-se este filme, vemos um outro Dumont, um homem que ignorou o sexo e a violência (física), para dedicar toda a sua arte a fazer um retrato da vida de Claudel aquando do seu internamento e que se revela num quotidiano forte, instigador, que a presença de não - actores e possuidores de distúrbios mentais diversos ajuda a reforçar a pesada, cruel e grotesca atmosfera.  
 
Este é também o primeiro filme de Dumond cujo papel principal é atribuído a uma verdadeira estrela, neste caso a Juliette Binoche, uma das últimas divas do cinema europeu e que se entrega de forma irrepreensível ao incorporar Camille conseguindo criar uma personagem inquietante, emersa em várias camadas emotivas e que cativa pela autenticidade.  




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