O Jogo Sério ou a pantomina do amor - Texto recolhido em «As Leituras de Madame Bovary»
O Doutor Glas deixou-me muito curiosa sobre a obra de Hjalmar Söderberg, pelo que fiquei muito alegre quando soube na Feira do Livro que a Relógio d’Agua tinha acabado de publicar outro livro do autor.
O Jogo Sério é, nas palavras de Henning Mankel, «uma história de amor que não envelhece. Mantém-se tocante, evocativa e vívida». A história de Arvid e Lydia insere-se numa tradição comum daquilo que se chama a novela do adultério. Mas mais uma vez, temos de olhar para além das aparências em Söderberg. Ao contrário de Madame Bovary ou Anna Karenina, aqui ninguém morre por amor. A visão deste amor extraconjugal – o mais apto à codificação romântico porque externo ao contrato racional do casamento – não conserva qualquer vestígio de tragédia.
Arvid e Lydia nunca se comprometem de facto um com o outro. O jogo sério que ambos jogam é o da pantomina do amor, nenhum representando de forma exemplar. Tudo é banal e todos enganam todos. «Enquanto se beijavam, ele pensou: isto é apenas um gesto de cortesia exigido pela situação.»
Quando a mulher de Arvid lhe pergunta se ele ouviu dizer alguma coisa, é impossível não suspeitar dela também. Tem razão a figura do escritor Rissler quando afirma que uma personagem construída a partir de Lydia é artificial. Neste jogo sério todos são artificiais, embora insistam em mimetizar o humano.
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