COLUNA DE MARIA PETRONILHO - A menina e o Vento - Crónica / Conto
Não me perguntem porque terei abandonado a rua que sempre pisava e me entranhei nos terrenos baldios cheios de latas e poças, sacos de plástico em tiras como bandeiras de nações despedaçadas.
Andava a custo, por causa dos obstáculos e dos cheiros nauseabundos. Impelia-me uma espécie de ânsia que dentro do peito gritava, uma voz que ciciava ao meu ouvido. - Anda! Vem cavalgar comigo! – Voz nítida, concreta, próxima, feita de sons cujas notas soavam fora e dentro da minha cabeça.
Olhei em redor, mas nada vi de estranho e no horizonte, ninguém! - Anda! Vem cavalgar comigo! Como estava sozinha, arrisquei: - Mas quem és tu?! E onde estás? - Sou o Vento, bradou ele numa voz muito alta.
Dei um pulo: - Ora essa! O Vento chia, não fala, repliquei, mas sem convicção pois nunca tinha falado com o vento, apenas sabia do som que fazia passando e era inusitado que respondesse, que dialogasse... fosse em que língua fosse. - O Vento tem muitas vozes, disse-me, como se me adivinhasse... na verdade a sua voz soava dentro e fora de mim, em uníssono. - Dizem que o Vento canta nas folhas, nos pingos de água... atrevi-me a dizer. - Pois canta! E assobia nos caules de erva.
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