sábado, 1 de junho de 2013

Hoje é o vosso dia, putos - Texto de Leocardo - Blogue Bairro do Oriente - Macau - China


Hoje é o vosso dia, putos - Texto de Leocardo - Blogue Bairro do Oriente - Macau - China  
 
Comemora-se hoje (1 de Junho) o Dia Mundial da Criança, uma data que na minha infância era o meu dia favorito depois do aniversário, mas da perspectiva de adulto deixa-me um tanto deprimido. Aos olhos de uma criança, da sua inocência e ternurenta ignorância de quem tem todo o tempo do mundo pela frente para aprender os mecanismos do cinismo dos adultos, é um dia de festa.
 
Neste dia os meus pais compravam-me uma prenda, os professores eram mais tolerantes com as «malandrices» dos estudantes, saíamos com os amigos e tomávamos as ruas de assalto, era o «nosso dia», era praticamente um feriado. Hoje vemos, ouvimos e lemos, como dizia a canção do Francisco Fanhais, e não podemos mesmo ignorar. Existem em todo o mundo crianças a viver e a morrer em condições miseráveis, a passar fome, obrigadas a trabalhar em regime de escravatura, a prostituírem-se, ensinadas a pedir e a roubar, de arma na mão forçadas a matar em guerras atrozes, sem que saibam sequer o que estão a fazer.
 
São as estatísticas que todos os anos neste dia nos deixam com o coração nas mãos, e que nos fazem olhar para os nossos filhos e outras crianças felizes e saudáveis sem que nos apeteça partilhar a sua alegria. Antes olhamos para eles com um ar de comiseração e de sorriso amarelo enquanto pensamos: «Coitados, nem sabem a sorte que têm…»
 
A infância é um estado passageiro, como que um casulo que mais cedo ou mais tarde se rompe e de lá sai mais um adulto. Ninguém é criança para sempre, e quem se recusa a envelhecer e entrar nesta cruel engrenagem que é a vida adulta sofre daquilo que a psicologia designa por «síndrome de Peter Pan», tirado do nome da personagem de J.M. Barrie, o menino que se recusava a ser homem.
 
E quantos de nós nunca sonhou nunca crescer, ficar para sempre na Terra do Nunca e poder voar? Não pode ser assim tão mau. Infelizmente quem não se consegue desligar um dia da fantasia de que é feito o mundo infantil é mais cedo ou mais tarde tido como «inadaptado», «disfuncional» ou «imaturo», e outras designações que os adultos cunharam para nos estragarem a festa. Não há nada mais triste do que ouvir dizer um dia: «Acabou a brincadeira».




 

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