sábado, 1 de junho de 2013

João Dacota na casa de Ditinha - Jorge André, «O Seu Catalão» (1915-2007)- Escrito por Sandra Fayad


João Dacota na casa de Ditinha - Jorge André, «O Seu Catalão» (1915-2007)- Escrito por Sandra Fayad  
 
João Dacota era meu vizinho solteiro e gente boa, desde que não tivesse tomado bebida alcoólica. Do contrário era um sujeito impulsivo, agressivo e metido a valentão.
 
Seus pais já não viviam e ele morava com sua irmã beata, solteirona, na frente da minha casa. Nunca fomos grandes amigos, mas de vez em quando saíamos juntos para tomar uma cervejinha ou nos encontrávamos para uma prosa rápida na porta de casa, até mesmo porque eu já tinha minha turma.   Maria Fernandes, mais conhecida como Ditinha, era a proprietária de uma boate grande com muitos quartos, que ficava depois da linha de ferro, na periferia da cidade. Naquela noite haveria uma grande festa lá para comemorar ao aniversário da empresária.
 
Foram convidadas autoridades de Uberlândia, Araguari, Ipameri, Goiandira e Catalão, naturalmente. Várias mulheres da Região foram escolhidas e convocadas para atender os clientes ilustres. Solteiro e sem compromisso, fui para lá também, interessado em participar do evento grandioso, no final da tarde. Tudo estava indo muito bem, com o Onório tocando seu violão e cantando as músicas de Nelson Gonçalves, quando o João Dacota entrou pela porta principal na maior valentia.  
 
De cara, deu um chute no violão do Onório. Só vi quando o instrumento subiu, girou e caiu no meio da sala com as cordas e cravelhas espatifadas. O Onório, que era vesgo, caiu de lado com as pernas para o ar.   Homens e mulheres corriam de um para outro recinto, gritando e até se jogando pelas janelas, apavoradas. Estava instalado o pânico.   João Dacota entrou pelo corredor, ao longo do qual ficavam os quartos das mulheres, gritando e xingando como um louco. Como foi até o final e não encontrou ninguém, voltou pisando duro ao salão, onde eu estava sentado na mesma cadeira de antes da confusão.  
 
Parou na minha frente, me encarou com os olhos vermelhos, de onde parecia saírem faísca de fogo, e perguntou:  - Ô Jorge, por que é que você não correu também? - Correr por que, João? Somos vizinhos, amigos... - Seu desgraçado! – gritou ele.   E foi-se jogando sobre mim. Caí de costas e não tive outra alternativa senão lutar, porque ninguém se atreveu a se aproximar de nós, apesar dos meus pedidos de socorro. Percebi que ele tentava pegar a garrucha de dois canos que estava na sua cintura.





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