sexta-feira, 12 de julho de 2013

Pedaço de pão e maçã - Autoria: Cecílio Elias Netto - Jornal A Província - Piracicaba - Viver vive-se vivendo (5)

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Pedaço de pão e maçã - Autoria: Cecílio Elias Netto - Jornal A Província - Piracicaba - Viver vive-se vivendo (5)
 
A frugalidade da vida, penso tê-la cultivado a partir da primeira infância. Eram frugais, os tempos. Não por virtude, mas por necessidade. A Guerra revelara a face cruel do existir: viver era apenas sobreviver. Não sei como, foi-me um aprendizado. Antes de viver, sobreviver. E, mais do que isso, sobreviver rapidamente para, então, usufruir da aventura da vida, da graça da existência. Aprendi, desde os primeiros dias, que a vida é dom. Chego próximo do fim acreditando nisso.
 
Carências podem matar ou estimular à criação. Os sonhos, penso eu, nascem de ausências. Quando se tem em abundância, não se sonha: farta-se, enjoa-se, não se aprecia. Se os tempos, neste início de terceiro milênio, são de esbanjamentos, de excessos, de emoções e de prazeres descartáveis, o mundo que conheci, a Piracicaba de meus olhares primeiros foram de necessidades, de miudezas. E de fome. Pois já havia a fome, maldição humana diante da perda do Paraíso.
 
A penúria tem o poder de transformar carentes em gourmets. Pequeninas coisas tornam-se tesouros. E são petiscos e comida de reis até mesmo as sobras que nos chegam à boca. Encontrar o sabor delas, aprender com isso, dessa experiência podem surgir gourmets. Pois os gourmands nem sempre saboreiam. Apenas comem. Piracicaba vivia na pobreza da Guerra, prazeres poucos, medos muitos. Viver com o não - ter, mais do que sobrevivência, foi uma arte.
 
 
 

 

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