Figueira ao luar - Conto de Madalena Luz - (Retirado do Blogue Delírios e Certezas)
Fechar os olhos e ouvir… Ouvir a água do riacho numa alegre toada…Ouvir a dança do vento com as árvores… Ouvir os pássaros … Ouvir os lobos a uivar nas noites frias de Inverno…
Fechar os olhos… sentir… sentir-se…
Os anos haviam passado por ela, o rosto mostrava a beleza madura, acentuada pelas marcas do tempo. O olhar refletia o amor à vida, sentia-se realizada. Nada, nem ninguém a faria abandonar o jardim da sua casinha branca, perfeitamente enquadrada na paisagem da serra.
O jardim… Espelho daquele que fora seu companheiro, amante, amigo por mais de cinquenta anos.
Dentro de casa os livros, a musica. Fora, toda a vastidão da serra… E os sons… Os sons da natureza… O seu mundo de sentires. Nada mais precisava.
Naquela tarde, era véspera de finados. Sempre fora sua tradição fazer estrelas e queijo de figo. Apesar do seu homem, já não se encontrar fisicamente junto dela, cumpria o ritual em memória de tempos passados.
Sentada na varanda, balançou a cadeira, ao ritmo do bolero que ouvia através da janela aberta. No rosto desenhou-se um sorriso de felicidade, pintada de alguma nostalgia. Chegara-lhe ao nariz, o aroma doce das estrelas de figo, que torravam no velho forno de pão. Fechou os olhos e viajou no tempo.
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