O Vendedor - Crónica por José Pedreira da Cruz (Tico Cruz)
1970 cheguei à belíssima Rio de Janeiro.
Eu sonhava com um futuro promissor tal como sonha um adolescente abobalhado com o seu primeiro beijo.
Na cidade maravilhosa tive minha primeira experiência de vida como vendedor de Carnet: carnet ERONTEX.
Após um exaustivo treinamento me mandaram para a Ilha do Governador. Lá a maioria dos moradores era militar, por isso eu acreditava que iria fazer uma grandiosa venda, pois na minha cabeça, eles - os ilhéus -, tinham muito dinheiro e eu seria um grande vendedor da equipe, e, oxalá, o melhor de todos.
Bati palmas na primeira casa que vi e, tal como me treinaram, fiz meu longo discurso sobre o produto Erontex, assim dizendo:
- Minha senhora, a senhora não estaria interessada nos produtos ERONTEX? Temos geladeira, televisões, fogões, bicicletas, lavadoras, colchões, camas, mesas, sofás, vitrais, etc,etc. etc, e a senhora ainda concorre a um valiosíssimo prêmio de um milhão de cruzeiros na TV tupi! já pensou? A senhora compra um carnet e será a próxima felizarda! – eu falava todo lero - lero olhando dentro dos olhos da fulana; tudo tudo na ponta da língua tal como ensaiei frente aos treinadores da empresa.
- Não! Não quero porcaria nenhuma! Me deixe em paz! – me disse a primeira, a segunda, a terceira, a quarta, a quinta, e assim foi embora a metade do dia sem eu vender bulhufas.
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