O mundo de amanhã foi ontem (e não volta mais) - Texto de Leocardo - Publicado no Blogue Bairro do Oriente - Macau
Ainda parece que foi ontem que recebíamos em festa a chegada do ano 2000, com toda a simbologia do seu número bem redondo, e um ano depois virava-se a primeira página de um novo livro da História, que todos queremos que tenha um final feliz.
Diziam os mais optimistas que saíamos do século das ideologias e iniciávamos o século das pessoas. Ninguém desejaria certamente que nos cem anos que tiveram a estreia no primeiro dia de 2001 se repetissem os mesmos erros do século XX, um dos mais sangrentos desde que há registo da nossa curta presença neste velhinho universo, cheio de equívocos terríveis, que no fim deixaram a própria espécie dotada da capacidade para se auto-extinguir.
Naqueles dias que nos correm menos bem, chegamos a pensar se não seria melhor assim, assistir ao fim dos dias ao vivo e a cores, de preferência em 3D. Perante a certeza da morte, o nosso egoísmo inato leva-nos a estar nas tintas para o futuro do resto da humanidade. O que importa se o mundo acaba no dia seguinte àquele em que soltamos o último estertor? Problema dos vivos, dos que ficam. Que se desenrasquem.
O nosso poeta - mor, Luís Vaz, deixou como últimas palavras «Morro feliz porque morro com a Pátria». Era um lírico, coitado, mas levou consigo a Pátria, mesmo que esta depois tenha renascido, fazendo valer o seu carácter de abstracto que faltou a Camões, que morto ficou.
Perante a inegável simbologia da chegada de um novo milénio, uma nova era, era porreiro que todos déssemos as mãos e fizéssemos um esforço para escrever a nova História, uma que não envergonhasse as gerações vindouras quando a aprendessem dos livros.
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