domingo, 2 de junho de 2013

NENZINHA, SUA CADELA E SUA VIDA - Texto de Antônio Carlos Affonso dos Santos - Acas


NENZINHA, SUA CADELA E SUA VIDA -  Texto de Antônio Carlos Affonso dos Santos - Acas
 
Desde criança, Nenzinha tem um sentimento de culpa. A responsável por esse sentimento era uma cadelinha que ela tinha quando criança, numa fazenda pros lados de Angicos, no Rio Grande do Norte.   Quando ela tinha cinco anos de idade, seus pais, mais ela e um irmão de sete, embarcaram num pau-de-arara, com destino ao sul maravilha. O pai vendeu por apenas uns trocados, a velha palhoça, onde moravam, sete galinhas e dois porcos magros e seis cabritos (um macho e cinco fêmeas).
 
O sítio ressequido, de dois alqueires de terra, quase nem foi levado em conta.   Da chegada em São Paulo, bairro do Brás, ela só lembra do frio e da fome, depois de comer só farinha de aipim por seis dias consecutivos; ainda que nos primeiros dois dias a farinha era acompanhada por rapadura, que se acabou, pois o pai da Nenzinha, toda vez oferecia às outras pessoas do caminhão, e quase sempre, um ou outro aceitava, pois tinham ainda menos para comer; pelo menos eles trouxeram um saco de farinha... .
 
 Mas, voltando ao sentimento de culpa: quando a Nenzinha, sua mainha e o painho, junto com o Edinilton subiram no caminhão, que os aguardava numa estradinha a uns dois quilômetros da palhoça onde viviam, sua cadelinha, a Baleia, veio correndo atrás. Ela latia e abanava o rabo em desespero.
Nenzinha chorava e pedia ao pai para apanhar a Baleia, mas ele, impassível, fingia nem escutar; talvez prevendo as dificuldades que enfrentariam na viagem e no início da vida, numa cidade grande. De objetivo mesmo, ele tinha apenas o endereço de um primo em segundo grau, o Raimundo; que morava na Vila Carrão, na Zona Leste da cidade.





 

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