domingo, 2 de fevereiro de 2014

Testemunho - Conto de Daniel Teixeira

 


Testemunho

Conto de Daniel Teixeira

 

Lembro-me bem, agora que são passados muitos anos, que neste espaço de terra batida, coberta de ervas mortas e estevas secas e donde a vida se ausentou para tão longe que se não vê, lembro-me tão bem como se pudesse ser hoje, mesmo sabendo que não seja agora, que aqui havia um prado.

E naquele tempo de que me quero lembrar, porque esta é a imagem que quero guardada e não aquela que vejo, havia em tempos um cavalo branco e também um velho magro que era o meu avô que o olhava sentado naquela pedra grande que daqui se vê.

E lembro-me ainda que quando o meu avô respirava fundo os gases que trouxera da guerra, que ele respirava muito fundo, tão fundo que se ouvia ali perto e mais longe, que nessas alturas então o cavalo resfolgava e parava de pastar. Levantava ele então a cabeça e com as crinas tombadas ficava de olhar parado e o que ele então via e pensava não pensando não sei porque eu era ainda uma criança e as crianças não sabem muitas coisas como eu não sabia.
 

1 comentário:

  1. Que terno e doce conto! Senti-me a ouvi-lo sentada à lareira... Senti-me tão bem a ler este conto! Excelente reabertura do Jornal Raizonline. Parabéns e não pense que estou a bajular. Aliás já me deve conhecer um bocadinho e não tenho jeito para isso. Outro qualquer que goste menos, ou comento de outra maneira ou até não comento. Um abraço

    ResponderEliminar