sábado, 15 de fevereiro de 2014

TENHO FRIO - Prosa poética de Joaquim Nogueira

 
 
TENHO FRIO - Prosa poética de Joaquim Nogueira 
 
«…tenho frio, tenho mesmo muito frio… sinto um arrepio dentro de mim que me faz encolher a alma… dobro-me sobre mim mesmo e procuro a razão do frio que sinto… sinto-me cheio de um vazio que se instala no meu cérebro e deste passa para o meu ser... sinto-me entorpecer e as pernas dobram-se e enregelam... o frio que sinto faz-me tremer… não vejo sol dentro de mim e a lua passou já muito ao largo e não deixou rastos... as estrelas estão longe e não me iluminam o suficiente para aquecer o meu coração...
 
é tudo em vão... todo o esforço que faço para me manter à superfície ainda me magoa mais porque as forças me abandonam e o corpo rejeita energias que gasto nesta viagem... e é apenas a minha imagem... mas olho para lá e não vejo nada que me faça regressar... e desejo cada vez mais sair, fugir mesmo sem saber para onde ir… não é dilema não saber o que aí vem… sabe-se que se está a ir nessa direcção e deixamo-nos ir como folha perdida nas águas turbulentas de uma sarjeta suja de pó e vazia também de tudo...
 
deito-me dentro de mim e adormeço no meu sonho sem dormir… é um sonho acordado de tão cansado que nem o sono sossega e não me dá trégua… tenho frio, tenho muito frio… sinto um arrepio de novo e mais uma vez me encolho e olho para dentro do copo que tenho na mão… é um copo vazio como eu e também está frio… peço a alguém que o encha de novo e dizem-me que não, que já bebi demasiado… mas eu sei que não, ainda consigo entender o que me é dito e porque razão ouço este imenso grito…
 
 
 
 

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