domingo, 2 de fevereiro de 2014

O Céu de Suely (2006) - Texto Recolhido em Cinema Pela Arte - Emmanuela

 
 
O Céu de Suely (2006)

Texto Recolhido em Cinema Pela Arte - Emmanuela

  
Em constante movimento

E é mesmo a mise en scène que deixa visualmente atingível o refúgio utópico tão almejado pela personagem principal de «O Céu de Suely» (2006), segundo longa de ficção dirigido por Karim Aïnouz. A cor azul, aqui clara representação do paraíso, surge colossal ao tingir um céu, que quando não imaculado, é apenas povoado por nuvens rarefeitas. Insistente, a cor reverbera no quotidiano árido: seja, por exemplo, nas paredes do casebre ou no orelhão isolado, até tornar-se mais discreta quando é percebida no anel que adorna o dedo, em uma alça de sutiã levemente caída e no brinquedinho da criança.

No relato em off de Hermila (Hermila Guedes) no início do filme, a cor encontra seu eco verbal – a personagem conta que em uma manhã dominical seu filho foi concebido, o acasalamento aninhado sobre o cobertor, como não poderia deixar de ser, azul. Antes de ser um filme que discorre sobre a precariedade, baseado no curta «Rifa-me» (2000), dirigido pelo próprio Karim, «O Céu de Suely» destaca a esperança como recurso de sobrevivência, focaliza a resiliência de um ser desarreigado e errante que constantemente locomove-se em busca do paraíso intrínseco, idealizado.

Impossibilitada de continuar morando em São Paulo devido ao o custo de vida elevado, ilusória terra prometida, Hermila retorna à Iguatu, sua cidade natal situada no nordeste do país. Com um filho nos braços, fruto de sua união com Matheus, o amor que a levou à migração, Hermila é recebida pela tia e a avó, respectivamente Maria e Rosário.
 

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